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A cura do homem endemoninhado

(Mt 8.28-34; Lc 8.26-37)

Chegaram ao outro lado do lago, à terra dos Gerasenos. Ao desambarcar, um homem vindo dum cemitério, possuído por um espírito impuro, veio ao seu encontro. Este homem morava entre os túmulos e ninguém conseguia prendê-lo nem sequer com correntes. Pois muitas vezes o tentaram prender com grilhões e correntes, mas ele partia os grilhões dos pulsos e despedaçava as correntes, sem que ninguém conseguisse dominá-lo. Durante o dia e pela noite dentro, errava entre os túmulos e pelos montes desertos, dando gritos e ferindo-se com pedras.

Mal viu Jesus, vinha este ainda longe, correu ao seu encontro. E deitando-se no chão à sua frente, soltou um grito forte: “Que queres tu de mim, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Peço-te por Deus que não me atormentes!” Jesus falou ao demónio que existia dentro dele: “Sai deste homem, espírito impuro!”

“Como te chamas?” perguntou Jesus. “Exército, porque somos muitos.” 10 E pedia com insistência a Jesus que não os expulsasse para fora da região. 11 Ora, andava ali perto, no monte acima do lago, uma grande vara de porcos a pastar, 12 e os demónios rogaram-lhe: “Manda-nos para aqueles porcos.” 13 Jesus concordou. Então, os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. A vara de 2000 porcos precipitou-se, caindo por um despenhadeiro no mar, onde se afogou.

14 Os porqueiros fugiram para a cidade e campos, espalhando a notícia, e as pessoas vieram ver o que tinha sucedido. 15 As pessoas dirigiram-se ao encontro de Jesus e viram o endemoninhado ali sentado, agora vestido e em seu perfeito juízo, e ficaram com medo. 16 Aqueles que tinham assistido ao que tinha acontecido ao endemoninhado contavam aos outros. 17 E a multidão chegou até a pedir a Jesus que fosse embora da região.

18 Assim, voltou para o barco e o homem que tinha andado possuído dos demónios pediu a Jesus que o deixasse acompanhá-los. 19 Mas Jesus não quis: “Volta para a tua família e conta-lhe as maravilhas que o Senhor te fez e como foi tão bondoso contigo.” 20 O homem partiu, para percorrer as Dez Cidades, e contava a toda a gente as grandes coisas que Jesus lhe tinha feito, e todos ficavam pasmados a ouvi-lo.

Uma menina morta e uma mulher doente

(Mt 9.18-26; Lc 8.41-56)

21 Quando Jesus atravessou de barco para a outra margem do lago, uma enorme multidão juntou-se à sua volta na praia. 22 O líder da sinagoga daquele lugar, cujo nome era Jairo, veio e prostrou-se a seus pés, 23 suplicando-lhe com insistência: “A minha filha está às portas da morte. Vem colocar as mãos sobre ela para ser curada, e ela ficará viva!” 24 Jesus foi com ele. Uma grande multidão o acompanhava e comprimia.

25 Entre todo aquele povo encontrava-se uma mulher que sofria, havia doze anos, de uma perda de sangue. 26 Durante esse tempo padecera bastante às mãos de muitos médicos, e tinha gasto tanto com eles que ficara pobre, sem ver quaisquer melhoras; antes piorara. 27 Ouvira falar tanto nos espantosos milagres de Jesus que; aproximou-se no meio da multidão por trás e tocou-lhe no manto, 28 pois dizia: “Se ao menos eu lhe tocar no manto, ficarei curada.” 29 De facto, logo que lhe tocou, o sangue parou de correr e percebeu que estava curada.

30 Jesus de imediato sentiu que saíra de si poder e, olhando para trás, perguntou: “Quem foi que me tocou na roupa?”

31 Os discípulos disseram-lhe: “Com toda esta gente à tua volta, ainda perguntas quem te tocou?”

32 Ele continuou a olhar à sua volta para encontrar quem fizera aquilo. 33 Então a mulher, amedrontada e a tremer, sabedora do que lhe tinha acontecido, chegou-se, pôs-se de joelhos diante dele e declarou o que tinha feito. 34 Jesus disse-lhe: “Filha, a tua fé te curou! Vai em paz, estás livre do teu mal!”

35 Jesus falava ainda com ela, quando chegaram uns mensageiros da casa de Jairo, líder da sinagoga, com a notícia: “A tua filha já morreu. Porque estás ainda a incomodar o Mestre?”

36 Jesus, contudo, não fez caso do que diziam e disse para o líder da sinagoga: “Não tenhas medo, crê somente!” 37 Jesus não deixou ninguém acompanhá-lo a não ser Pedro, Tiago e João. 38 Quando chegaram, havia uma grande confusão, ouvindo-se choro e lamentações. 39 E dirigiu-se aos que ali estavam: “Para que é todo este choro e alvoroço? A menina não está morta, apenas dorme!”

40 E riram-se de troça. Mas Jesus mandou todos saírem e, acompanhado do pai e da mãe da criança e dos três discípulos, entrou no quarto onde estava deitada. 41 E segurando-lhe na mão, disse: “Talita kum!” (Que quer dizer: “Menina, levanta-te!”) 42 E a menina, que tinha doze anos de idade, pôs-se imediatamente de pé e começou a andar. Os pais ficaram pasmados. 43 Jesus recomendou-lhes muito que não contassem aquilo a ninguém e mandou que dessem de comer à filha.

Um profeta sem honra

(Mt 13.54-58; Lc 4.16-30)

Logo depois disto, Jesus saiu daquela parte do país e voltou com os discípulos para a sua terra. No sábado seguinte, foi à sinagoga e começou a ensinar. Ao ouvirem-no, muitos ficaram admirados com a sua sabedoria e milagres. E diziam: “De onde lhe veio toda esta sabedoria? Como pode realizar tais milagres com as próprias mãos? Não é ele o carpinteiro, filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não moram aqui mesmo, nesta localidade?” E estavam escandalizados com ele. Então Jesus disse-lhes: “Um profeta é honrado em qualquer lugar menos na sua terra, entre o seus parentes e no meio da própria casa.” Por não acreditarem nele, Jesus não pôde fazer ali nenhum grande milagre, a não ser colocar as mãos sobre alguns doentes e curá-los. Jesus estava admirado por causa da falta de fé deles.

Jesus envia os doze discípulos

(Mt 10.1, 9-14; Lc 9.1-6)

E andava pelas aldeias em redor a ensinar. Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. Disse-lhes: “Nada levem convosco a não ser o bordão; nem comida, nem saco de viagem, nem dinheiro de cobre à cintura; sandálias, só as que tiverem nos pés, e nem mesmo uma muda de roupa.” 10 E acrescentou: “Sempre que entrarem numa casa, fiquem nela até à vossa partida. 11 Se uma qualquer localidade não vos receber nem ouvir, sacudam a poeira dos vossos pés, quando saírem, como testemunho de que abandonaram essa terra à sua própria sorte.”

12 Então os discípulos partiram, incitando todos os que encontravam a abandonarem o pecado. 13 Expulsaram muitos demónios e curaram muitos doentes, ungindo-os com azeite.

João Batista é degolado

(Mt 14.1-12; Lc 9.7-9)

14 Não tardou que o rei Herodes ouvisse falar de Jesus, cujos milagres eram contados com espanto em toda a parte. Algumas pessoas declaravam que era João Batista que tinha voltado à vida. Por isso, diziam: “Não admira que possa fazer tais milagres!”

15 Havia gente também que pensava que Jesus fosse Elias; outros, ainda, afirmavam que era um novo profeta igual aos do passado. 16 Herodes, ao tomar conhecimento destes factos, disse: “Não! É João, a quem degolei. Ressuscitou dentre os mortos!”

17-19 Porque Herodes mandara soldados meter João no cárcere, por andar sempre a dizer que não estava certo este casar-se com Herodíade, mulher de Filipe, irmão do próprio rei. Para se vingar, Herodíade queria que João fosse morto; mas sem a aprovação de Herodes nada podia fazer. 20 Porque Herodes respeitava João, sabendo que era um homem justo e santo e protegia-o. Sempre que falava com João, Herodes ficava preocupado, mas gostava de ouvi-lo.

21 Até que, por fim, chegou a oportunidade que Herodíade esperava. Herodes fazia anos e dera uma festa para a gente do palácio, para os oficiais do exército e para as pessoas importantes da Galileia. 22 A certa altura, entrou a filha de Herodíade que dançou na presença dos convidados e agradou a todos. 23 “Pede-me o que quiseres”, prometeu o rei, “que eu dou-te nem que seja metade do meu reino.”

24 Ouvindo isto, ela saiu para se aconselhar junto da mãe, que lhe disse: “Pede-lhe a cabeça de João Batista!”

25 Então voltou à presença do rei: “Dá-me a cabeça de João Batista numa bandeja!”

26 O rei ficou muito triste com o pedido, mas teve vergonha de quebrar o juramento diante dos convidados. 27 Mandou então um membro da sua guarda pessoal à prisão cortar a cabeça de João e trazê-la. O soldado matou João no cárcere 28 e trouxe a sua cabeça numa bandeja, entregando-a à jovem, que a levou à mãe. 29 Quando os discípulos de João souberam o que tinha acontecido, foram buscar o corpo e sepultaram-no num túmulo.

Jesus alimenta 5000 homens

(Mt 14.13-21; Lc 9.10-17; Jo 6.1-13)

30 Por fim, os apóstolos voltaram da sua viagem. Foram ter com Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e como tinham falado às populações visitadas.

31 Jesus disse-lhes: “Saiamos por um pouco do meio do povo para descansar.” Pois era tanta a gente que ia e vinha que mal tinham tempo para comer. 32 E saíram de barco para um sítio mais sossegado. 33 Contudo, muitos aperceberam-se disso e, correndo pela praia, foram esperá-los no ponto de desembarque. 34 Quando Jesus saiu do barco, já lá se encontrava uma enorme multidão; teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor e ensinou-lhes muitas coisas que precisavam de saber.

35 Como a hora já fosse bastante avançada, os discípulos foram ter com Jesus e disseram: 36 “Este lugar é deserto e a hora já vai avançada. Manda o povo retirar-se, para ir às aldeias e campos dos arredores comprar alguma coisa para comer.”

37 Jesus respondeu: “Deem-lhes vocês de comer.” Responderam: “Como? Seria preciso duzentas moedas de prata[a] para comprar comida para tanta gente!”

38 “Quanta comida temos? Vão ver.” Eles voltaram, dizendo que havia cinco pães e dois peixes. 39 Então Jesus disse à multidão que se sentasse. E sentaram-se, na erva verde, 40 em grupos de cinquenta ou cem. 41 E tomando os cinco pães e os dois peixes, Jesus ergueu os olhos para o céu e abençoou-os. Depois, partiu os pães em pedaços e deu-os aos discípulos, para que os oferecessem ao povo. E distribuiu também os dois peixes entre todos. 42 Todos comeram até ficarem satisfeitos. 43 E quando os sobejos foram recolhidos, as sobras dos peixes enchiam doze cestos. 44 O número de homens que comeu foi de 5000.

Jesus anda sobre as águas

45 Logo a seguir, Jesus mandou os discípulos voltar para o barco e partir à sua frente, atravessando o lago até Betsaida, enquanto ele tratava de mandar a multidão embora. 46 Depois disto, Jesus subiu à montanha para orar.

47 Caiu a noite, o barco já estava no meio do lago e ele ainda se encontrava sozinho em terra. 48 Jesus viu que remavam com dificuldades, pois o vento soprava em sentido contrário. Por volta das quatro horas da madrugada, foi ter com eles, a caminhar sobre a água, e ia passar-lhes adiante. 49 Ao verem-no caminhar sobre a água, gritaram de terror, pensando que fosse um fantasma. 50 Todos o viam e ficaram inquietos. Imediatamente ele lhes disse: “Está tudo bem, sou eu, não tenham medo!” 51 Então subiu para o barco e o vento cessou.

Os discípulos ficaram ali sentados, de boca aberta, sem compreender o que se passara. 52 Porque ainda não tinham percebido quem Jesus realmente era, nem mesmo depois do milagre da tarde anterior. Os seus corações estavam endurecidos.

53 Quando chegaram a Genezaré, do outro lado do lago, amarraram o barco. 54 Mal desembarcaram, os habitantes reconheceram-no logo. 55 Percorriam toda a região, começando a trazer-lhe os doentes em esteiras e padiolas. 56 Aonde quer que fosse, aldeias, cidades e campo, punham os doentes nas praças e ruas, pedindo que os deixasse ao menos tocar na borda da sua roupa. E todos os que lhe tocavam ficavam curados.

O que contamina o ser humano

(Mt 15.1-20)

Um dia, chegaram de Jerusalém uns fariseus e especialistas na Lei para falarem com Jesus. E notaram que alguns dos seus discípulos comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavarem. (Porque os judeus, sobretudo os que são fariseus, nunca comem sem lavar ritualmente as mãos, conforme o exigem as antigas tradições[b]. E quando voltam da rua para casa, devem sempre lavar-se deste modo antes de tocar em qualquer comida. Este é apenas um entre os muitos exemplos das leis a que se agarraram, tais como o ritual de purificação de vasilhas, panelas e pratos.) Os fariseus e especialistas na Lei perguntaram-lhe: “Porque não seguem os teus discípulos os costumes dos antigos e comem com as mãos impuras?”

Jesus respondeu: “Fingidos! Bem falou Isaías, o profeta, a vosso respeito:

‘Este povo honra-me de mim com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim.
Os seus atos de adoração são vazios,
porque ensinam doutrinas criadas por homens.’[c]

Isaías bem tinha razão! Porque vocês desprezam as ordens expressas de Deus para porem no seu lugar as vossas próprias tradições. Rejeitam os mandamentos bem claros de Deus para manter as vossas próprias tradições.

10 Por exemplo: Moisés ordenou-vos da parte de Deus: ‘Honra o teu pai e a tua mãe’,[d] acrescentando que ‘todo aquele que falar contra o pai ou a mãe deverá ser morto.’[e] 11-12 Mas vocês dizem: ‘Mesmo que os teus pais estejam a passar mal, podes dar a Deus o dinheiro que seria para o sustento deles.’ 13 Assim ofendem a Lei divina para defender as vossas tradições criadas por homens. E isto é só um exemplo, porque há muitos mais.”

14 Então chamou de novo a multidão e disse-lhe: “Escutem todos o que vos digo e procurem entender. 15 Não há nada exterior ao homem que ao entrar nele o torne impuro; antes o que sai dele é que o torna impuro.” 16 Quem tem ouvidos para ouvir ouça.

17 Depois de deixar aquele povo, entrou numa casa e os discípulos perguntaram-lhe o que queria dizer com a parábola que acabara de contar. 18 “Então não entendem?”, perguntou-lhes. “Não percebem que nada do que vem do exterior e entra no homem pode torná-lo impuro? 19 Pois não vai para o coração, mas para o estômago e é lançado na latrina.” Com estas palavras, Jesus queria dizer que todos os alimentos ficam puros, independentemente de se lavarem as mãos.

20 E acrescentou: “O que sai do homem é que o torna impuro. 21 Porque do seu íntimo, do seu coração, vêm os maus pensamentos, imoralidades sexuais, roubos, homicídios, 22 adultérios, cobiça, maldades, engano, indecências, inveja, calúnia, orgulho e coisas insensatas. 23 Todas essas coisas más procedem do íntimo da pessoa; são elas que tornam o homem impuro.”

A fé da estrangeira

(Mt 15.21-28)

24 Depois, saiu da Galileia e foi para a região de Tiro e Sídon, mas não conseguiu esconder que estava ali. Como de costume, a notícia da sua chegada depressa se espalhou. 25 Imediatamente foi procurado por uma mulher cuja filha estava possuída por um espírito impuro. Como tinha já ouvido falar em Jesus, aproximou-se dele e prostrou-se aos seus pés, 26 pedindo-lhe muito que livrasse a filha do poder do demónio. Tratava-se de uma siro-fenícia, uma estrangeira, e por isso desprezada pelos judeus. 27 Jesus disse-lhe: “Primeiro tenho que ajudar os da minha família, os judeus. Não está certo tirar o pão aos filhos e lançá-la aos cães.”

28 Ela replicou: “Senhor, até os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, das migalhas dos filhos.”

29 “Estás certa! Respondeste tão bem que já curei a tua filhinha!” 30 E quando chegou a casa, encontrou a filha sossegada, na cama; o demónio tinha-a deixado.

A cura do surdo-mudo

(Mt 15.29-31)

31 De Tiro foi para Sídon, voltando em seguida ao mar da Galileia pelo caminho das Dez Cidades. 32 E trouxeram-lhe um surdo que tinha um defeito na fala e todos lhe pediam que pusesse as mãos sobre o homem e o curasse. 33 Então Jesus, afastando-o da multidão, pôs os dedos nos ouvidos do homem e, cuspindo, tocou-lhe na língua com a sua saliva. 34 Levantando os olhos para o céu, suspirou e ordenou: “Effata!”, que significa “Abram-se!” 35 No mesmo instante, o homem começou a ouvir e a falar perfeitamente.

36 Jesus recomendou à multidão que não espalhasse a notícia; mas quanto mais proibia, mais o facto se divulgava. 37 Porque toda a gente sentia enorme espanto, dizendo a cada instante: “Tudo o que faz é maravilhoso! Os surdos ouvem e os mudos falam!”

Jesus alimenta 4000 homens

(Mt 15.32-39)

Naquele tempo, estando outra grande multidão reunida, o povo ficou novamente sem provisões. Jesus chamou os discípulos para perto de si e disse: “Sinto compaixão desta gente, porque estão comigo há três dias e não têm com que se alimentar. Se os mandar embora com fome, desfalecem pelo caminho, pois alguns vêm de muito longe.” Os discípulos responderam-lhe: “E onde se poderá aqui num deserto arranjar pão para alimentá-los?” “Quantos pães têm?”, inquiriu. “Sete”, responderam.

Mandou então que todos se sentassem no chão. E tomando os sete pães, deu graças a Deus, partiu-os em pedaços e entregou-os aos discípulos, para os levarem à multidão; e estes assim fizeram. Encontraram também alguns peixinhos que Jesus igualmente abençoou e mandou os discípulos servir.

E a multidão comeu até ficar satisfeita. Recolhidas as sobras, ainda sobejaram sete cestos. Havia cerca de 4000 homens. Então mandou-os embora.

Os religiosos pedem um sinal

(Mt 16.1-4)

10 Logo a seguir entrou num barco com os discípulos e foi para a região de Dalmanuta. 11 Quando os fariseus daquela terra souberam da sua chegada, vieram e começaram a discutir com ele, pedindo-lhe que fizesse um sinal do céu, para o porem à prova. 12 Ao ouvir estas palavras, sentiu-se profundamente triste no seu espírito e disse: “Porque pede esta geração um sinal? É realmente como vos digo: não receberá nenhum sinal!” 13 Então deixou-os e voltou para o barco, atravessando para a outra margem do lago.

O fermento dos fariseus e de Herodes

(Mt 16.5-12)

14 Os discípulos, contudo, tinham-se esquecido de fazer provisão de comida antes de partirem, pelo que só tinham um pão a bordo. 15 Durante a travessia, Jesus disse-lhes muito solenemente: “Prestem atenção, tenham cuidado com o fermento do rei Herodes e dos fariseus.”

16 “Que quererá dizer?”, perguntavam os discípulos uns aos outros. E chegaram à conclusão de que devia referir-se ao facto de se terem esquecido de levar pão.

17 Jesus percebeu o que discutiam entre si: “Porque se preocupam tanto por não terem pão? Nunca chegaram a compreender? Será porventura o vosso coração demasiado duro para entender isto? 18 Se têm olhos, porque não veem? Se têm ouvidos, porque não ouvem? Já não se lembram? 19 E os 5000 homens que alimentei só com cinco pães? Quantos cestos cheios de sobras recolheram depois?” Disseram: “Doze.” 20 “E quando alimentei os 4000 com sete pães, quanto sobejou?” Responderam: “Sete cestos cheios.” 21 Jesus disse-lhes: “Não perceberam ainda?”

A cura do cego de Betsaida

22 Quando chegaram a Betsaida, algumas pessoas trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que tocasse nele e o curasse. 23 Jesus tomou o cego pela mão e levou-o para fora da aldeia. Aí, cuspiu-lhe nos olhos e pôs as mãos em cima deles. “Já vês alguma coisa?”, perguntou a seguir.

24 O homem olhou em volta: “Sim! Vejo homens mas não os distingo bem; parecem troncos de árvore a andar de um lado para o outro.”

25 Então pôs outra vez as mãos em cima dos olhos do homem e, quando olhou bem, tinha recuperado completamente a visão e via claramente o que se passava à sua volta. 26 Jesus mandou-o para casa, para junto da família. “Não passes sequer pela aldeia”, recomendou-lhe.

A confissão de Pedro sobre Jesus

(Mt 16.13-16, 20; Lc 9.18-21)

27 Jesus e os discípulos saíram da Galileia e foram para as vilas de Cesareia de Filipe. Enquanto caminhavam, perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?”

28 “Há quem diga que és João Batista. Outros afirmam que és Elias ou um dos outros profetas.”

29 Então perguntou-lhes: “E vocês, quem pensam que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Cristo!” 30 Jesus recomendou-lhes que não o dissessem a ninguém.

Jesus fala da sua morte

(Mt 16.21-23; Lc 9.22)

31 E começou a ensiná-los: “O Filho do Homem está destinado a passar por muitos sofrimentos, ser rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos especialistas na Lei e ser morto, mas três dias depois ressuscitará.” 32 Falando com eles abertamente, Pedro chamou-o à parte e começou a repreendê-lo.

33 Jesus voltou-se, e depois de olhar para os discípulos, disse severamente a Pedro: “Vai para trás de mim, Satanás! Vês as coisas do ponto de vista humano e não do ponto de vista de Deus.”

Como ser discípulo de Cristo

(Mt 16.24-28; Lc 9.23-27)

34 Chamando os discípulos e o povo para o ouvirem, falou-lhes assim: “Se alguém quiser ser meu seguidor, tem de esquecer-se de si próprio, tomar a sua cruz e seguir-me. 35 Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á. E quem perder a sua vida por minha causa e por causa do evangelho salvá-la-á. 36 Que lucro terá o homem em ganhar o mundo inteiro e causar dano à própria vida? 37 Haverá alguma coisa mais valiosa do que a própria vida da pessoa? 38 Quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, no meio desta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará desse, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.”

Falando ainda com os discípulos, Jesus continuou: “É realmente como vos digo: alguns dos que estão aqui agora não morrerão sem ver o reino de Deus chegar com grande poder!”

Jesus transfigura-se

(Mt 17.1-13; Lc 9.28-36)

Passados seis dias, Jesus levou Pedro, Tiago e João ao cimo de um alto monte. Não havia ali mais ninguém. O aspeto de Jesus mudou e a sua roupa ficou de uma brancura deslumbrante que nenhum processo humano conseguiria alcançar. Então apareceram Elias e Moisés e puseram-se a falar com Jesus.

“Mestre, que bom é estarmos aqui!”, exclamou Pedro. “Façamos três tendas: um para ti, outro para Moisés e outro para Elias!” Falava assim por nada mais lhe vir à ideia. Estavam cheios de espanto. Então uma nuvem cobriu-os e dela saiu uma voz que disse: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!”

Nesse momento olharam em torno, não viram mais ninguém com eles, senão apenas Jesus.

Enquanto desciam do monte, Jesus recomendou-lhes que não relatassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos. 10 Por isso, guardaram o sucedido para si mesmos. Contudo, muitas vezes falavam a respeito disso, perguntando entre si o que quereria ele dizer com “levantar-se de entre os mortos.”

11 E perguntaram-lhe: “Porque é que os especialistas na Lei insistem que Elias deve vir antes?”

12 Jesus respondeu: “Elias, de facto, vem primeiro para pôr tudo em ordem. Então porque está escrito que o Filho do Homem deve sofrer e ser rejeitado? 13 Digo-vos: Elias já veio e fizeram dele tudo o que quiseram, como as Escrituras previam.”

A cura do rapaz com um espírito mau

(Mt 17.14-19; Lc 9.37-42)

14 Quando chegaram lá abaixo, encontraram uma grande multidão que rodeava os outros discípulos, enquanto alguns especialistas na Lei discutiam com eles. 15 A multidão olhou com admiração para Jesus, ao vê-lo aproximar-se, e correu a cumprimentá-lo. 16 “Que se passa?”, perguntou.

17 Alguém respondeu do meio da multidão: “Mestre, trouxe o meu filho para que o curasses, pois está dominado por um espírito que não fala. 18 Sempre que o demónio se apodera dele, atira-o ao chão e fá-lo espumar pela boca e ranger os dentes; e assim vai definhando. Pedi aos teus discípulos que expulsassem o demónio, mas não conseguiram.”

19 Jesus disse aos discípulos: “Ó povo sem fé! Até quando terei de andar convosco? Até quando terei de suportar-vos? Tragam-me cá o rapaz!” 20 Trouxeram-lhe o menino, mas ao ver Jesus, o demónio sacudiu em convulsões a criança, que caiu no chão, contorcendo-se e espumando.

21 “Há quanto tempo está ele assim?”, perguntou ao pai.

“Desde pequenino. 22 O demónio fá-lo cair muitas vezes no fogo e na água, para o matar. Tem compaixão de nós e, se puderes, faz alguma coisa!”

23 “Se eu puder?”, perguntou Jesus. “Tudo é possível a quem tem fé!”

24 Ao que o pai respondeu logo: “Eu tenho fé! Ajuda-me a ter mais fé!”

25 Quando Jesus viu que a multidão aumentava, ordenou ao espírito impuro: “Espírito de surdez e mudez, ordeno-te que saias desse menino e não entres mais nele!”

26 Então o espírito soltou um grito terrível, tornou a sacudi-lo e deixou-o em seguida. O menino ficou caído, sem forças, sem se mexer, como se estivesse morto. A multidão começou a dizer à boca pequena: “Morreu!” 27 Mas Jesus tomou-o pela mão, ajudou-o a pôr-se de pé e ele ergueu-se.

28 Mais tarde, estando Jesus sozinho em casa com os discípulos, estes perguntaram-lhe: “Porque não conseguimos expulsar aquele demónio?”

29 “Para casos como este é preciso orar”, respondeu.

Jesus fala outra vez da sua morte e ressurreição

(Mt 17.22-23; Lc 9.43-45)

30 Deixando aquela região, percorreram a Galileia, onde Jesus procurava evitar toda e qualquer atividade pública, 31 para poder dedicar mais tempo a ensinar os discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, hão de matá-lo mas, três dias depois de ser morto, ressuscitará.” 32 Eles, porém, não compreendiam e tinham medo de lhe fazer perguntas.

Quem é o maior?

(Mt 18.1-5; Lc 9.46-48)

33 Chegaram a Cafarnaum. Quando se encontravam instalados na casa onde iam ficar, perguntou-lhes: “Que vinham a discutir pelo caminho?” 34 Mas tinham vergonha de responder, porque a discussão era sobre qual deles seria o mais importante. 35 Então sentou-se e, chamando-os para junto de si disse: “Quem quiser ser o primeiro será o último e o servo de todos.”

36 Tomando uma criancinha, colocou-a no meio deles, acolheu-a nos braços e disse-lhes: 37 “Quem receber uma criancinha como esta, em meu nome, é a mim que recebe. E quem me receber não é a mim que recebe, mas aquele que me enviou.”

Quem não é contra nós é por nós

(Mt 10.42; Lc 9.49-50)

38 João, um dos seus discípulos, disse-lhe: “Mestre, vimos alguém que se servia do teu nome para expulsar demónios, mas dissemos-lhe que não o fizesse, por não pertencer ao nosso grupo.”

39 “Não o proíbam! Porque ninguém que faça milagres em meu nome vai logo falar mal de mim. 40 Quem não é contra nós está do nosso lado. 41 Se alguém vos der nem que seja um copo de água, por serem de Cristo, é realmente como vos digo, não deixará de ter a sua recompensa.

Não levar os outros a pecar

(Mt 18.8-9; Lc 17.1-2)

42 Quem fizer tropeçar na fé um destes pequeninos que creem em mim, mais valia a esse homem amarrarem-lhe uma mó ao pescoço e ser atirado ao mar. 43-44 Se a tua mão te fizer pecar, corta-a! Mais vale entrar na vida com uma só mão do que ir parar com ambas ao fogo do inferno, que nunca se apaga! 45-46 Se o teu pé te fizer pecar, corta-o! Mais vale entrar na vida coxo do que ser lançado com ambos os pés no inferno. 47 E se o teu olho te fizer pecar, arranca-o! Melhor é entrar no reino de Deus só com um olho do que ser lançado com ambos no inferno, 48 onde os bichos nunca morrem e o fogo nunca se apaga.[f] 49 Porque todos serão como que temperados pelo fogo.

50 O sal é bom para temperar, mas se perder o sabor como pode tornar-se de novo salgado? Vocês devem ter as qualidades do sal e viver em paz uns com os outros.”

O divórcio

(Mt 19.1-9)

10 Dali, Jesus dirigiu-se à região da Judeia, na outra margem do Jordão. Acorreram multidões a ouvi-lo e, como sempre, ele as ensinava. Alguns fariseus foram ter com Jesus, para o pôr à prova, e perguntaram-lhe se era lícito um marido divorciar-se da mulher.

“Que disse Moisés sobre o divórcio?”, perguntou-lhes Jesus.

“Disse que era permitido; que um homem pode escrever uma declaração de divórcio, entregá-la à mulher e mandá-la embora.”

Jesus disse-lhes: “Ele deixou-vos escrito este mandamento por causa da dureza do vosso coração. No entanto, não foi assim que Deus estabeleceu, porque desde o princípio da criação criou o homem e a mulher. Assim, ‘o homem deve deixar o seu pai e a sua mãe, para se unir com a sua mulher, e serão os dois como um só.’[g] Por conseguinte, não mais serão dois, mas como um só. E nenhum homem separe o que Deus juntou.”

10 Mais tarde, estando sozinho com os discípulos em casa, tornaram-lhe a falar naquele assunto. 11 E disse-lhes: “Quem se divorciar da sua mulher para se casar com outra, comete adultério contra ela. 12 E se a mulher se divorciar do marido e se casar outra vez, também comete adultério.”

Jesus e os meninos

(Mt 19.13-15; Lc 18.15-17)

13 E traziam-lhe crianças para que as abençoasse, mas os discípulos diziam-lhes que fossem embora. 14 Ao ver isto, Jesus ficou muito descontente: “Deixem as crianças vir a mim! Não as devem impedir, porque o reino de Deus pertence aos que são como estas crianças. 15 É realmente como vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança nunca entrará nele.” 16 E, acolhendo as crianças nos braços, colocou as mãos sobre elas e abençoou-as.

O jovem rico

(Mt 19.16-30; Lc 18.18-30)

17 Quando Jesus ir a sair dali, um homem correu para ele, ajoelhou-se e fez-lhe esta pergunta: “Bom Mestre, que farei para obter a vida eterna?”

18 “Porque me chamas bom?”, perguntou-lhe Jesus. “Não há ninguém que seja bom, a não ser Deus[h]. 19 Sabes o que dizem os mandamentos: ‘Não mates, não adulteres, não roubes, não faças uma falsa acusação contra outra pessoa, não enganes, honra o teu pai e a tua mãe.’ ”[i]

20 “Mestre”, respondeu o homem, “desde criança que tenho obedecido a todos estes mandamentos.”

21 Ao olhar para aquele homem, Jesus sentiu uma afeição profunda por ele: “Falta-te uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Vem e segue-me!” 22 Desanimado com estas palavras, foi-se embora triste, porque era muito rico.

23 Jesus, voltando-se, disse aos discípulos: “É quase impossível um rico entrar no reino de Deus!” 24 Os discípulos ficaram admirados com as suas palavras. Jesus, em resposta, de novo lhes explicou: “Meus queridos filhos, é muito difícil, para quem confia nas riquezas, entrar no reino de Deus! 25 É mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha do que um rico entrar no reino de Deus!”

26 Os discípulos, porém, ficaram muito admirados, dizendo uns aos outros: “Então quem é que neste mundo poderá salvar-se?”

27 Jesus olhou para eles e respondeu: “Humanamente falando, ninguém, mas não no que toca a Deus. Na verdade, a Deus tudo é possível.”

28 Pedro começou a dizer-lhe: “Nós deixámos tudo para te seguir.”

29 E Jesus respondeu: “É realmente como vos digo: não há ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e terras por minha causa e do evangelho, 30 que não venha a receber em recompensa cem vezes mais em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, mas com perseguições, e no mundo futuro terá a vida eterna. 31 Porém, muitos primeiros virão a ser os últimos, e os últimos virão a ser primeiros.”

Footnotes

  1. 6.37 Ver nota a Mt 20.2.
  2. 7.3 Esta exigência, estabelecida por tradições religiosas ancestrais, não se deve a questões de higiene, mas de ritual.
  3. 7.7 Is 29.13.
  4. 7.10 Êx 20.12; Dt 5.16.
  5. 7.10 Êx 21.17; Lv 20.9.
  6. 9.48 Is 66.24.
  7. 10.8 Gn 2.24.
  8. 10.18 Com estas palavras, Jesus não expressa uma atitude de humildade, como se quisesse dizer que ele próprio não é bom. A intenção de Jesus parece mais bem ser testar a fé que o seu interlocutor teria nele e na sua autoridade, na qualidade de Deus e Mestre (v. 21).
  9. 10.19 Êx 20.12-16; Dt 5.16-20.