Bible in 90 Days
A ira de Deus pelo pecado
2 Em sua ira, o Senhor
cobriu com uma sombra a bela Sião.[a]
A mais gloriosa das cidades de Israel
foi lançada por terra das alturas dos céus.
No dia de sua grande ira,
o Senhor não teve compaixão nem mesmo de seu templo.[b]
2 Sem piedade, o Senhor destruiu
todas as casas de Israel.[c]
Em sua ira, derrubou
os muros fortificados da bela Jerusalém.[d]
Jogou-os por terra
e humilhou o reino e seus governantes.
3 Toda a força de Israel
desapareceu sob a sua ira ardente.
Retirou sua proteção
durante os ataques do inimigo.
Como labaredas de fogo,
consome tudo ao redor.
4 Prepara o arco para atacar seu povo,
como se fosse seu inimigo.
Usa contra eles sua força
para matar os melhores jovens.
Derrama como fogo sua fúria
sobre a tenda da bela Sião.
5 Sim, o Senhor derrotou Israel
como se fosse seu inimigo.
Destruiu seus palácios
e demoliu suas fortalezas.
Trouxe tristeza e choro sem fim
sobre a bela Jerusalém.
6 Derrubou com violência seu templo,
como uma cabana num jardim.
O Senhor fez cair no esquecimento
as festas sagradas e os sábados.
Reis e sacerdotes caíram juntos
diante de sua ira ardente.
7 O Senhor rejeitou seu altar
e desprezou seu santuário.
Entregou os palácios de Jerusalém
a seus inimigos.
No templo do Senhor, gritam
como se fosse um dia de celebração.
8 O Senhor se decidiu
a derrubar os muros da bela Sião.
Traçou planos detalhados para sua destruição
e fez o que planejou.
Por isso as fortificações e os muros
caíram diante dele.
9 Os portões de Jerusalém afundaram na terra;
ele despedaçou suas trancas.
Seu rei e seus príncipes foram exilados entre as nações;
sua lei deixou de existir.
Seus profetas não recebem mais
visões do Senhor.
10 Os líderes da bela Jerusalém
sentam-se no chão em silêncio.
Vestem-se de pano de saco
e jogam pó sobre a cabeça.
As moças de Jerusalém
abaixam a cabeça, envergonhadas.
11 Chorei até que não tivesse mais lágrimas;
meu coração está aflito.
Meu espírito se derrama de angústia,
quando vejo a calamidade de meu povo.
Crianças pequenas e bebês
desfalecem e morrem nas ruas.
12 Clamam às mães:
“Estamos com fome e sede!”.
Desfalecem nas ruas,
como o guerreiro ferido na batalha.
Lutam para respirar
e morrem lentamente nos braços maternos.
13 Que posso dizer a seu respeito?
Quem alguma vez viu tamanha tristeza?
Ó filha de Jerusalém, a que posso compará-la em sua angústia?
Ó filha virgem de Sião, como posso consolá-la?
Sua ferida é mais profunda que o mar;
quem pode curá-la?
14 Seus profetas anunciaram
visões inúteis e mentiras.
Não lhe mostraram seus pecados
para salvá-la do exílio.
Em vez disso, anunciaram mensagens enganosas
e a encheram de falsa esperança.
15 Todos que passam caçoam de você;
zombam da bela Jerusalém[e] e a insultam:
“Esta é a cidade chamada de ‘A Mais Bela do Mundo’
e ‘Alegria de Toda a Terra’?”.
16 Todos os seus inimigos falam mal de você;
zombam, rosnam e dizem:
“Finalmente a destruímos!
Esperamos tanto por este dia,
e enfim ele chegou!”.
17 Mas foi o Senhor que fez tudo que planejou;
cumpriu as promessas de trazer calamidade
feitas muito tempo atrás.
Destruiu Jerusalém sem compaixão;
fez seus inimigos se alegrarem com sua derrota
e lhes deu poder sobre ela.
18 Chorem em alta voz[f] diante do Senhor,
ó muros da bela Sião!
Que suas lágrimas corram
dia e noite como um rio.
Não se permitam descanso algum,
nem deem alívio a seus olhos.
19 Levantem-se no meio da noite e clamem,
derramem como água o coração diante do Senhor.
Levantem as mãos em oração
e supliquem por seus filhos,
pois desfalecem de fome
pelas ruas.
20 “Ó Senhor, pensa nisso!
Acaso deves tratar teu povo dessa maneira?
Devem as mães comer os próprios filhos,
que elas criaram com tanto carinho?
Devem os sacerdotes e os profetas ser mortos
dentro do templo do Senhor?
21 “Estão jogados nas ruas,
jovens e velhos,
rapazes e moças,
mortos pelas espadas do inimigo.
Tu os mataste em tua ira
e os massacraste sem piedade.
22 “Convocaste terrores de todos os lados,
como se os chamasses para uma ocasião solene.
No dia da ira do Senhor,
ninguém escapou nem sobreviveu.
Os filhos que levei em meus braços e criei
o inimigo destruiu.”
Esperança na fidelidade do Senhor
3 Eu sou aquele que viu as aflições
trazidas pela vara da ira do Senhor.
2 Ele me conduziu para a escuridão
e removeu toda a luz.
3 Voltou sua mão contra mim
repetidamente, o dia todo.
4 Fez minha pele e minha carne envelhecerem
e me quebrou os ossos.
5 Sitiou-me e cercou-me
de angústia e aflição.
6 Enterrou-me num lugar escuro,
como os que há muito morreram.
7 Cercou-me de muros, e não consigo escapar;
prendeu-me com pesadas correntes.
8 E, ainda que eu clame e grite,
ele fechou os ouvidos para minha oração.
9 Com um muro de pedra, impediu meu caminho;
tornou minha estrada tortuosa.
10 Escondeu-se como um urso ou um leão
que espera para atacar.
11 Arrastou-me para fora do caminho e despedaçou-me;
deixou-me devastado.
12 Preparou seu arco
e me fez alvo de suas flechas.
13 As flechas que ele atirou
entraram fundo em meu coração.
14 Meu povo ri de mim;
o dia inteiro entoam canções de zombaria.
15 De amargura ele me encheu
e me fez beber um amargo cálice de dor.
16 Fez-me comer pedrinhas até quebrar os dentes
e cobriu-me de pó.
17 Tirou-me a paz,
e já não sei o que é prosperar.
18 Grito: “Meu esplendor se foi!
Tudo que eu esperava do Senhor se perdeu!”.
19 Como é amargo[g] recordar meu sofrimento
e meu desamparo!
20 Lembro-me sempre destes dias terríveis
enquanto lamento minha perda.
21 Ainda ouso, porém, ter esperança
quando me recordo disto:
22 O amor do Senhor não tem fim![h]
Suas misericórdias são inesgotáveis.
23 Grande é sua fidelidade;
suas misericórdias se renovam cada manhã.
24 Digo a mim mesmo: “O Senhor é minha porção;
por isso, esperarei nele!”.
25 O Senhor é bom para os que dependem dele,
para os que o buscam.
26 Portanto, é bom esperar em silêncio
pela salvação do Senhor.
27 É bom as pessoas se sujeitarem, ainda jovens,
ao jugo de sua disciplina.
28 Que permaneçam sozinhas e em silêncio
sob o jugo do Senhor.
29 Que se deitem com o rosto no pó,
pois talvez ainda haja esperança.
30 Que deem a outra face para os que os ferem
e aceitem os insultos de seus inimigos.
31 Pois o Senhor
não abandona ninguém para sempre.
32 Embora traga tristeza, também mostra compaixão,
por causa da grandeza de seu amor.
33 Pois não tem prazer em afligir as pessoas,
nem em lhes causar tristeza.
34 Quando alguém esmaga sob os pés
todos os prisioneiros da terra,
35 quando nega a outros seus direitos
em oposição ao Altíssimo,
36 quando distorce a justiça nos tribunais,
será que o Senhor não vê tudo isso?
37 Quem pode ordenar que algo aconteça
sem a permissão do Senhor?
38 Acaso o Altíssimo
não envia tanto a calamidade como o bem?
39 Então por que nós, humanos, nos queixamos
quando somos castigados por nossos pecados?
40 Em vez disso, examinemos nossos caminhos
e voltemos para o Senhor.
41 Levantemos o coração e as mãos
para Deus nos céus e digamos:
42 “Pecamos e nos rebelamos,
e tu não nos perdoaste.
43 “Com tua ira nos envolveste, nos perseguiste
e nos massacraste sem piedade.
44 Tu te escondeste numa nuvem,
para que nossas orações não chegassem a ti.
45 Como refugo e lixo, nos lançaste fora,
no meio das nações.
46 “Todos os nossos inimigos
falam contra nós.
47 Vivemos cheios de medo,
pois estamos presos numa armadilha, devastados e arruinados”.
48 Rios de lágrimas correm de meus olhos
pela destruição de meu povo.
49 Minhas lágrimas correm sem parar;
não cessarão
50 até que o Senhor se incline
dos céus e veja.
51 Meu coração está aflito
pelo destino das mulheres de Jerusalém.
52 Meus inimigos, a quem nunca fiz mal,
caçaram-me como se eu fosse um pássaro.
53 Num poço me jogaram
e atiraram pedras sobre mim.
54 A água subiu acima de minha cabeça
e clamei: “É o fim!”.
55 Mas, lá do fundo do poço,
invoquei teu nome, Senhor.
56 Tu me ouviste quando clamei: “Ouve minha súplica!
Escuta meu clamor por socorro!”.
57 Sim, tu vieste quando clamei
e disseste: “Não tenha medo”.
58 Senhor, defende minha causa,
pois redimiste minha vida.
59 Viste a injustiça que me fizeram, Senhor;
demonstra tua justiça.
60 Viste os planos vingativos.
que meus inimigos tramaram contra mim.
61 Senhor, ouviste os insultos deles;
sabes muito bem dos planos que tramaram.
62 Meus inimigos me acusam
e conspiram contra mim o dia todo.
63 Olha para eles! Sentados ou em pé,
zombam de mim com suas canções.
64 Senhor, dá-lhes o que merecem
por todo o mal que fizeram.
65 Dá-lhes coração duro e teimoso,
e que tuas maldições caiam sobre eles.
66 Persegue-os em tua ira
e destrói-os sob os céus do Senhor.
A ira do Senhor é satisfeita
4 Como o ouro perdeu seu brilho!
Até o ouro mais puro ficou embaçado.
As pedras sagradas
estão espalhadas pelas ruas.
2 Vejam como os filhos preciosos de Sião,
que valem seu peso em ouro puro,
são tratados como vasos de barro
feitos por um oleiro qualquer.
3 Até os chacais amamentam seus filhotes,
mas meu povo não age assim.
Como as avestruzes no deserto,
ignora cruelmente o clamor de seus filhos.
4 A língua seca dos bebês
gruda no céu da boca, por causa da sede.
As crianças imploram por um pedaço de pão,
mas ninguém as atende.
5 Os que antes comiam as comidas mais finas
agora morrem de fome nas ruas.
Os que antes vestiam roupas da melhor qualidade
agora reviram os montes de lixo.
6 A culpa[i] de meu povo
é maior que a de Sodoma,
que foi destruída de repente,
e ninguém ofereceu ajuda.
7 Nossos príncipes eram radiantes de saúde,
mais brilhantes que a neve e mais brancos que o leite.
Seu rosto era rosado como rubis,
e sua aparência, como safiras.[j]
8 Agora, porém, seu rosto está mais escuro que fuligem;
ninguém os reconhece nas ruas.
Sua pele está pegada aos ossos,
seca como madeira.
9 Os que morreram pela espada foram mais felizes
que os que morrem de inanição.
Famintos, definham
por falta de alimento dos campos.
10 Mulheres de bom coração
cozinharam os próprios filhos.
Elas os comeram
para sobreviver ao cerco.
11 Agora, porém, a ira do Senhor está satisfeita;
sua ira ardente foi derramada.
Em Sião ele acendeu um fogo
que queimou a cidade até seus alicerces.
12 Nenhum rei em toda a terra,
ninguém no mundo inteiro,
poderia imaginar que o inimigo
entraria pelas portas de Jerusalém.
13 Mas foi o que aconteceu por causa do pecado de seus profetas
e da maldade de seus sacerdotes,
que profanaram a cidade
ao derramar sangue inocente.
14 Andavam sem destino pelas ruas,
como cegos,
tão contaminados de sangue
que ninguém se atrevia a tocar neles.
15 “Afastem-se!”, gritavam para eles.
“Estão contaminados! Não toquem em nós!”
Fugiram para terras distantes
e andaram sem rumo entre as nações,
mas nenhuma permitiu que ficassem.
16 O Senhor, em sua ira, os espalhou
e deixou de ajudá-los.
Ninguém mais respeita os sacerdotes
nem honra os líderes.
17 Esperamos em vão que nossos aliados
viessem nos socorrer.
Buscamos a ajuda de nações
incapazes de nos livrar.
18 Não podíamos sair às ruas,
pois nossos passos eram vigiados.
Nosso fim se aproximava, nossos dias estavam contados;
estávamos condenados!
19 Nossos inimigos eram mais rápidos que as águias no céu;
fugimos para as montanhas, mas eles nos perseguiram.
No deserto nos escondemos,
mas eles estavam ali, esperando por nós.
20 Nosso rei, o ungido do Senhor, a vida de nossa nação,
foi capturado nos laços deles.
E nós pensávamos que sua sombra
nos protegeria de qualquer nação da terra!
21 Ó povo de Edom,
você se alegra e exulta na terra de Uz?
Mas você também beberá do cálice da ira do Senhor;
também ficará embriagado e será despido.
22 Ó bela Sião,[k] o castigo de sua maldade chegará ao fim;
logo voltará do exílio.
Mas para você, Edom, o castigo está só começando;
logo seus muitos pecados serão expostos.
Súplica por restauração
5 Lembra-te, Senhor, do que aconteceu conosco
e vê como fomos humilhados!
2 Nossa herança foi entregue a estranhos,
e nossas casas, a estrangeiros.
3 Somos órfãos e já não temos pai,
e nossa mãe ficou viúva.
4 Temos de pagar pela água que bebemos,
e até a lenha nos custa caro.
5 Os que nos perseguem estão bem perto;
estamos exaustos, mas não nos deixam descansar.
6 Ao Egito e à Assíria nos sujeitamos,
para conseguir alimento e sobreviver.
7 Nossos antepassados pecaram e já morreram,
e nós recebemos o castigo que eles mereciam.
8 Escravos se tornaram nossos senhores;
não restou ninguém para nos resgatar.
9 Arriscamos a vida à procura de alimento,
pois a violência tomou conta do deserto.
10 A fome nos escureceu a pele,
como se tivesse sido queimada no forno.
11 As mulheres de Sião e as moças das cidades de Judá
são violentadas por nossos inimigos.
12 Os príncipes são pendurados pelas mãos,
os idosos são tratados com desprezo.
13 Os rapazes são levados para trabalhar nos moinhos,
os meninos cambaleiam sob os pesados fardos de lenha.
14 As autoridades não se sentam mais à porta das cidades,
os rapazes não tocam mais música.
15 A alegria desapareceu de nosso coração,
nossas danças se transformaram em pranto.
16 A coroa caiu de nossa cabeça;
que aflição por causa de nosso pecado!
17 Nosso coração desfalece,
nossos olhos se embaçaram de lágrimas,
18 pois o monte Sião está desolado;
tornou-se morada de chacais.
19 Mas tu, Senhor, reinas eternamente!
Teu trono permanece de geração em geração.
20 Por que continuas a te esquecer de nós?
Por que nos abandonaste por tanto tempo?
21 Restaura-nos, Senhor, e faze-nos voltar para ti!
Devolve-nos a alegria que tínhamos antes!
22 Ou será que nos rejeitaste completamente?
Ainda estás irado conosco?
Visão dos seres vivos
1 Em 31 de julho[l] de meu trigésimo ano,[m] enquanto eu estava com os exilados judeus junto ao rio Quebar, na Babilônia, os céus se abriram e tive visões de Deus. 2 Isso aconteceu no quinto ano do exílio do rei Joaquim. 3 (O Senhor deu essa mensagem ao sacerdote Ezequiel, filho de Buzi, junto ao rio Quebar, na terra dos babilônios,[n] e a mão do Senhor estava sobre ele.)
4 Quando olhei, vi uma grande tempestade que vinha do norte. Uma nuvem faiscava com relâmpagos e brilhava com luz intensa. Dentro da nuvem havia fogo e, no meio do fogo, resplandecia algo semelhante a âmbar reluzente.[o] 5 Do centro da nuvem surgiram quatro seres vivos de aparência humana, 6 porém cada um tinha quatro rostos e quatro asas. 7 Suas pernas eram retas, e seus pés tinham cascos como os de bezerro e brilhavam como bronze polido. 8 Debaixo de cada uma das quatro asas, vi mãos humanas. Assim, cada um dos quatro seres tinha quatro rostos e quatro asas. 9 As asas de cada um dos seres tocavam as asas dos seres ao seu lado. Cada um se movia para a frente, sem se virar.
10 Cada um dos quatro seres tinha rosto humano na frente, rosto de leão à direita, rosto de boi à esquerda e rosto de águia atrás. 11 Cada um tinha dois pares de asas estendidas: com um par tocava as asas dos seres de cada lado e com o outro par cobria o corpo. 12 Deslocavam-se em qualquer direção que o espírito indicava e moviam-se para a frente, sem se virar.
13 Os seres vivos eram semelhantes a brasas acesas ou tochas reluzentes, e relâmpagos pareciam faiscar entre eles. 14 Os seres vivos se deslocavam de um lado para o outro rapidamente, como relâmpagos.
15 Enquanto eu olhava para esses seres, vi quatro rodas que tocavam o chão junto a eles, uma roda para cada um. 16 As rodas brilhavam, como se fossem feitas de berilo. As quatro rodas eram semelhantes e feitas da mesma forma; cada uma tinha dentro dela outra roda que girava na transversal. 17 Os seres podiam se deslocar em qualquer uma das quatro direções, sem se virar enquanto se moviam. 18 Os aros das rodas eram altos e assustadores, cobertos de olhos em todo o redor.
19 Quando os seres vivos se moviam, as rodas se moviam com eles. Quando eles voavam para cima, as rodas também subiam. 20 O espírito dos seres vivos estava nas rodas; aonde quer que o espírito fosse, as rodas e os seres vivos o acompanhavam. 21 Quando os seres se moviam, as rodas também se moviam. Quando os seres paravam, as rodas também paravam. Quando os seres voavam para cima, as rodas também subiam, pois o espírito dos seres vivos estava nas rodas.
22 Acima deles estendia-se uma superfície como o céu, brilhante como cristal. 23 Abaixo dessa superfície as asas de cada ser vivo se estendiam de modo a tocar as asas dos outros, e as outras duas asas cobriam seu corpo. 24 Quando voavam, o estrondo de suas asas soava para mim como ondas do mar quebrando na praia, como a voz do Todo-poderoso,[p] ou como os gritos de um grande exército. Quando os seres pararam, abaixaram as asas. 25 Enquanto estavam com as asas abaixadas, uma voz falou de além da superfície acima deles.
26 Acima dessa superfície havia algo parecido com um trono de safira. No trono, bem no alto, havia uma figura semelhante a um homem. 27 Da cintura para cima, tinha a aparência de âmbar reluzente que cintilava como o fogo, e, da cintura para baixo, parecia uma chama ardente que brilhava com esplendor. 28 Estava rodeado por um aro luminoso, como arco-íris que resplandece entre as nuvens num dia de chuva. Essa era a aparência da glória do Senhor para mim. Quando a vi, prostrei-me com o rosto no chão e ouvi a voz de alguém que falava comigo.
O chamado e a comissão de Ezequiel
2 “Levante-se, filho do homem”, disse a voz. “Quero falar com você.” 2 Enquanto ele falava, o Espírito entrou em mim e me pôs em pé, e eu ouvi suas palavras com atenção. 3 “Filho do homem”, disse ele, “eu o envio à nação de Israel, uma nação rebelde, que se revoltou contra mim. Até hoje, eles e seus antepassados têm se revoltado contra mim. 4 São um povo teimoso, de coração duro. Mas eu o envio para lhes dizer: ‘Assim diz o Senhor Soberano!’. 5 E, quer eles ouçam quer não — lembre-se de que são rebeldes —, pelo menos saberão que tiveram um profeta no meio deles.
6 “Filho do homem, não tenha medo deles nem de suas palavras. Não tema, ainda que suas ameaças o cerquem como urtigas, espinhos e escorpiões. Não desanime com seus olhares raivosos, pois são um povo rebelde. 7 Anuncie-lhes minha mensagem, quer eles ouçam quer não, pois são completamente rebeldes. 8 Filho do homem, preste atenção ao que lhe digo. Não seja rebelde como eles. Abra sua boca e coma o que lhe dou.”
9 Então olhei e vi a mão de alguém estendida para mim. Segurava um rolo, 10 que ela abriu. Vi que de ambos os lados estavam escritos cânticos fúnebres, lamentações e palavras de condenação.
3 A voz me disse: “Filho do homem, coma o que lhe dou. Coma este rolo! Depois, vá e fale ao povo de Israel”. 2 Então abri a boca, e ele me deu o rolo para eu comer. 3 “Filho do homem, encha seu estômago com ele”, disse a voz. Quando comi, o sabor era doce como mel em minha boca.
4 Em seguida, ele disse: “Filho do homem, vá ao povo de Israel e transmita-lhe minhas mensagens. 5 Não o envio a um povo estrangeiro, cuja língua você não entende, mas ao povo de Israel. 6 Não, eu não o envio a um povo de língua estrangeira e difícil. Se o fizesse, eles lhe dariam ouvidos! 7 O povo de Israel, porém, não lhe dará ouvidos, assim como não deu ouvidos a mim. Pois todos eles têm o coração duro e são teimosos. 8 Mas eu tornei você tão obstinado e inflexível quanto eles. 9 Endureci sua testa como a pedra mais dura. Portanto, não tenha medo deles nem tema seus olhares raivosos, pois são um povo rebelde”.
10 Então ele acrescentou: “Filho do homem, primeiro deixe que minhas palavras entrem até o fundo de seu coração. Ouça-as com atenção. 11 Depois, vá a seu povo no exílio e diga-lhes: ‘Assim diz o Senhor Soberano!’. Faça isso quer eles ouçam quer não”.
12 Em seguida, o Espírito me pôs em pé, e eu ouvi uma estrondosa proclamação atrás de mim. (Que a glória do Senhor seja louvada em sua habitação!)[q] 13 Era o som das asas dos seres vivos que tocavam umas nas outras e o barulho das rodas debaixo deles.
14 O Espírito me levantou e me tirou de lá. Saí amargurado e agitado, mas a mão do Senhor era forte sobre mim. 15 Cheguei à colônia dos exilados judeus em Tel-Abibe, junto ao rio Quebar. Estava atônito e permaneci no meio deles durante sete dias.
Um vigia para Israel
16 Depois de sete dias, o Senhor me deu uma mensagem: 17 “Filho do homem, eu o nomeei vigia de Israel. Sempre que receber uma mensagem minha, advirta o povo. 18 Se eu avisar os perversos: ‘Vocês estão condenados à morte’, mas você não lhes transmitir a advertência, para que mudem sua conduta perversa e salvem a vida, eles morrerão em seus pecados. E eu o considerarei responsável pela morte deles. 19 Se você os advertir, mas eles não quiserem se arrepender e continuarem a pecar, eles morrerão em seus pecados. Você, porém, salvará sua vida.
20 “Se os justos se desviarem de sua conduta justa e não prestarem atenção aos obstáculos que eu puser em seu caminho, eles morrerão. E, se você não os advertir, eles morrerão em seus pecados. Nenhum dos atos de justiça deles será lembrado, e eu o considerarei responsável pela morte deles. 21 Mas, se você advertir os justos a não pecarem e eles lhe derem ouvidos e não pecarem, eles viverão. E você também salvará sua vida”.
22 A mão do Senhor veio sobre mim, e ele disse: “Levante-se e vá até o vale, e eu lhe falarei ali”. 23 Levantei-me, fui até o vale e ali vi a glória do Senhor, como na primeira visão junto ao rio Quebar, e prostrei-me com o rosto no chão.
24 Então o Espírito entrou em mim e me pôs em pé. “Vá para sua casa e tranque-se dentro dela”, disse ele. 25 “Ali, filho do homem, você será amarrado com cordas e não poderá sair para o meio do povo. 26 Farei sua língua se prender ao céu da boca, para que fique mudo e não possa repreendê-los, pois são rebeldes. 27 Mas, quando eu lhe der uma mensagem, desprenderei sua língua e deixarei que fale. Então você lhes dirá: ‘Assim diz o Senhor Soberano!’. Quem escolher ouvir, ouvirá, mas quem se recusar, não ouvirá, pois são um povo rebelde.”
Sinal do cerco que está para vir
4 “Agora, filho do homem, pegue um tijolo de barro, coloque-o à sua frente e desenhe nele a cidade de Jerusalém. 2 Retrate a cidade cercada. Construa um muro ao redor dela, arme o acampamento inimigo e cerque a cidade com rampas e troncos de ataque. 3 Pegue uma panela de ferro e coloque-a entre você e a cidade. Volte-se para a cidade e mostre como será o cerco de Jerusalém. Isso será um sinal de advertência para o povo de Israel.
4 “Agora, deite-se sobre o lado esquerdo e ponha sobre si os pecados de Israel. Você terá de carregar os pecados de Israel pelo número de dias que ficar deitado sobre o lado esquerdo. 5 Determinei que carregará os pecados de Israel por 390 dias, um dia para cada ano de pecado do povo. 6 Depois, deite-se sobre o lado direito durante quarenta dias, um dia para cada ano de pecado de Judá.
7 “Enquanto isso, continue a olhar para o cerco de Jerusalém. Deite-se com o braço descoberto e profetize contra a cidade. 8 Eu o amarrarei com cordas para que você não possa virar-se de um lado para o outro, até que tenha completado os dias do cerco.
9 “Pegue um pouco de trigo, cevada, feijão, lentilha, milho-miúdo e trigo candeal e misture-os numa vasilha. Use-os para preparar seu pão durante os 390 dias em que ficará deitado sobre o lado esquerdo. 10 Racione suas porções, 240 gramas[r] por dia, e coma-as em horas determinadas. 11 Depois, meça pouco mais de meio litro[s] de água para cada dia e beba-a em horas determinadas. 12 Prepare e coma esse alimento como faria com bolos de cevada. Asse-o diante de todo o povo, usando fezes humanas secas como combustível.” 13 E o Senhor disse: “Assim os israelitas comerão pão impuro na terra dos gentios, para onde eu os expulsarei”.
14 Então eu disse: “Ó Senhor Soberano, jamais me contaminei! Desde a infância, nunca comi animais mortos por doença ou despedaçados por outros animais. Nunca comi carne alguma proibida pela lei”.
15 Então ele me disse: “Em lugar de fezes humanas, você pode usar esterco de vaca para assar o pão”. 16 E acrescentou: “Filho do homem, tornarei a comida extremamente escassa em Jerusalém. Será pesada com grande cuidado e consumida com medo. A água será racionada, e o povo beberá com desespero. 17 Diante da falta de comida e água, olharão uns para os outros aterrorizados e definharão debaixo de seu castigo.”
Sinal do julgamento que está para vir
5 “Filho do homem, pegue uma espada afiada e use-a como navalha para raspar sua cabeça e sua barba. Use uma balança para pesar o cabelo e dividi-lo em três partes. 2 Coloque uma terça parte no meio do desenho de Jerusalém e, depois de encenar o cerco à cidade, queime o cabelo ali. Espalhe outra terça parte ao redor do desenho e corte-a com a espada. Espalhe a terceira parte ao vento, pois eu espalharei meu povo com a espada. 3 Guarde apenas um pouco de cabelo e amarre-o em seu manto. 4 Então, pegue alguns desses fios de cabelo e jogue-os no fogo, para que se queimem. Dali um fogo se espalhará e destruirá todo o Israel.
5 “Assim diz o Senhor Soberano: Esta é uma ilustração do que acontecerá a Jerusalém. Coloquei-a no centro das nações, 6 mas ela se revoltou contra meus estatutos e decretos e foi mais perversa que as nações ao seu redor. Não quis obedecer a meus estatutos e decretos.
7 “Portanto, assim diz o Senhor Soberano: Vocês são mais rebeldes que as nações vizinhas e não quiseram obedecer a meus decretos e estatutos. Nem sequer viveram de acordo com os padrões de justiça das nações ao seu redor. 8 Portanto, eu mesmo, o Senhor Soberano, estou contra vocês. Eu os castigarei publicamente diante de todas as nações. 9 Por causa de seus ídolos detestáveis, punirei vocês como nunca fiz antes e nunca voltarei a fazer. 10 Pais devorarão os filhos, e filhos devorarão os pais. Eu os castigarei e espalharei aos quatro ventos os poucos que sobreviverem.
11 “Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Soberano, eu os destruirei completamente. Não terei compaixão alguma de vocês, pois profanaram meu templo com imagens repugnantes e pecados detestáveis. 12 Uma terça parte de seu povo morrerá na cidade por doença e fome, uma terça parte será morta pelo inimigo fora dos muros da cidade, e eu espalharei uma terça parte aos quatro ventos e os perseguirei com minha espada. 13 Por fim, minha ira se completará, e ficarei satisfeito. E, quando minha fúria contra eles tiver passado, todo o Israel saberá que eu, o Senhor, lhes falei segundo o meu zelo.
14 “Portanto, eu o transformarei em uma ruína, em objeto de insulto aos olhos das nações ao redor e para todos que passarem por ali. 15 Você se tornará alvo de insultos, zombarias e horror, e servirá de advertência para todas as nações ao redor. Elas verão o que acontece quando o Senhor, em sua ira, castiga uma nação e a repreende, diz o Senhor.
16 “Farei chover sobre você as flechas mortais da fome, para destruí-la. A fome se tornará cada vez mais severa, até que desapareça todo suprimento. 17 Além da fome, enviarei animais selvagens para atacá-la e devorar seus filhos. Doença e guerra a alcançarão, e trarei contra você a espada do inimigo. Eu, o Senhor, falei!”.
Julgamento contra os montes de Israel
6 Recebi outra mensagem do Senhor: 2 “Filho do homem, volte o rosto para os montes de Israel e profetize contra eles. 3 Proclame esta mensagem do Senhor Soberano contra os montes de Israel. Assim diz o Senhor Soberano aos montes, às colinas, aos desfiladeiros e aos vales: Estou prestes a trazer guerra sobre vocês e destruir seus santuários idólatras. 4 Todos os seus altares serão demolidos, e seus lugares de adoração serão destruídos. Matarei o povo diante de seus ídolos.[t] 5 Porei os cadáveres dos israelitas diante de seus ídolos e espalharei os ossos ao redor de seus altares. 6 Onde quer que vocês vivam, haverá desolação, e destruirei os santuários idólatras. Seus altares serão demolidos, seus ídolos serão despedaçados, seus lugares de adoração serão derrubados e todos os objetos religiosos que vocês fizeram serão destruídos. 7 O lugar ficará cheio de cadáveres, e vocês saberão que somente eu sou o Senhor.
8 “Deixarei, porém, que alguns do meu povo escapem da destruição, e eles serão espalhados entre as nações do mundo. 9 Então, quando estiverem exilados entre as nações, se lembrarão de mim. Reconhecerão quanto me entristece seu coração infiel e seus olhos lascivos por seus ídolos. Por fim, terão nojo de si mesmos por causa de todos os seus pecados detestáveis. 10 Saberão que somente eu sou o Senhor e que falava sério quando disse que traria sobre eles essa calamidade.
11 “Assim diz o Senhor Soberano: Batam palmas de horror e batam os pés. Gritem por causa de todos os pecados detestáveis que o povo de Israel cometeu. Agora, morrerão de guerra, fome e doença. 12 A doença matará os que estiverem exilados em lugares distantes, a guerra destruirá os que estiverem por perto, e os que sobrarem morrerão de fome. Enfim derramarei toda a minha fúria sobre eles. 13 Eles saberão que sou o Senhor quando seus mortos estiverem espalhados entre os ídolos e os altares em todas as colinas e montes, debaixo de toda árvore verdejante e de todo carvalho que dá sombra, os lugares onde ofereciam sacrifícios a seus ídolos. 14 Eu os arrasarei e deixarei suas cidades desoladas, desde o deserto, no sul, até Ribla,[u] no norte. Então saberão que eu sou o Senhor”.
O fim se aproxima
7 Então recebi esta mensagem do Senhor: 2 “Filho do homem, assim diz o Senhor Soberano a Israel:
“Chegou o fim!
Para onde quer que vocês olhem,
norte, sul, leste ou oeste,
sua terra está acabada.
3 Não resta esperança,
pois lançarei minha ira contra vocês.
Eu os chamarei para prestar contas
de todos os seus pecados detestáveis.
4 Não os pouparei nem terei piedade;
darei a vocês o que merecem
por todos os seus pecados detestáveis.
Então saberão que eu sou o Senhor.
5 “Assim diz o Senhor Soberano:
Desgraça após desgraça
se aproximam!
6 Chegou o fim,
finalmente chegou;
sua condenação os espera!
7 Ó povo de Israel, já amanhece o dia de sua destruição;
chegou a hora, o tempo da aflição está próximo.
Nos montes se ouvem gritos de angústia,
e não de alegria.
8 Em breve derramarei sobre vocês minha fúria
e contra vocês lançarei minha ira.
Eu os chamarei para prestar contas
de todos os seus pecados detestáveis.
9 Não os pouparei nem terei piedade;
darei a vocês o que merecem
por todos os seus pecados detestáveis.
Então saberão que eu, o Senhor, os feri.
10 “O dia do juízo chegou;
sua destruição os espera!
A vara da perversidade brotou,
sim, o orgulho do povo floresceu.
11 Sua violência se transformou numa vara
que os castigará por sua maldade.
Nenhum dos orgulhosos sobreviverá;
toda a sua riqueza e prestígio desaparecerão.
12 Sim, chegou a hora;
este é o dia!
Que os compradores não se alegrem,
nem os vendedores se entristeçam,
pois todos eles cairão
sob a minha ira ardente.
13 Ainda que os comerciantes sobrevivam,
jamais voltarão a seus negócios.
Pois a profecia contra o povo
não mudará.
Ninguém cuja vida é corrompida pelo pecado
se recuperará.”
A desolação de Israel
14 “A trombeta convoca o exército,
mas ninguém sai para guerrear,
pois minha fúria está contra todos eles.
15 Fora da cidade há guerra,
dentro dela, doença e fome.
Quem estiver fora dos muros
será morto pela espada do inimigo.
Quem estiver dentro da cidade
morrerá de fome e doença.
16 Os sobreviventes que fugirem para os montes
gemerão como pombas, por causa de seus pecados.
17 Suas mãos ficarão fracas,
e seus joelhos, frouxos como água.
18 De pano de saco se vestirão
e ficarão cobertos de horror.
Rasparão a cabeça,
em sinal de tristeza e remorso.
19 “Jogarão seu dinheiro na rua,
o lançarão fora como se fosse lixo.
Seu ouro e sua prata não os salvarão
no dia da ira do Senhor.
Não os saciarão nem os alimentarão,
pois sua ganância só os faz tropeçar.
20 Tinham orgulho de suas lindas joias
e com elas fizeram ídolos detestáveis e imagens repugnantes.
Por isso farei que todas as suas riquezas se tornem
repulsivas para eles
21 e as entregarei como despojo a estrangeiros,
às nações perversas,
e elas as profanarão.
22 Desviarei deles meu olhar
quando ladrões invadirem e profanarem minha terra preciosa.
23 “Preparem correntes para meu povo,
pois o sangue de crimes terríveis cobre a terra;
Jerusalém[v] está cheia de violência.
24 Trarei as nações mais cruéis
para ocuparem suas casas.
Acabarei com o orgulho dos poderosos
e profanarei seus santuários.
25 O terror tomará conta do povo;
buscarão a paz, mas não a encontrarão.
26 Virá uma calamidade após a outra,
um rumor após o outro.
Buscarão sem sucesso
uma visão dos profetas.
Não receberão ensinamentos dos sacerdotes
nem conselhos das autoridades.
27 O rei e o príncipe ficarão desamparados
e chorarão de desespero;
as mãos do povo
tremerão de medo.
Trarei sobre eles
o mal que fizeram a outros,
e receberão o castigo
que tanto merecem.
Então saberão que eu sou o Senhor”.
Idolatria no templo
8 Em 17 de setembro,[w] no sexto ano do exílio do rei Joaquim, enquanto as autoridades de Judá estavam em minha casa, a mão do Senhor Soberano veio sobre mim. 2 Vi uma figura semelhante a um homem:[x] da cintura para baixo, parecia uma chama ardente, e, da cintura para cima, tinha a aparência de âmbar reluzente.[y] 3 Ele estendeu algo que parecia uma mão e me pegou pelos cabelos. Então o Espírito me elevou entre a terra e o céu e me transportou para Jerusalém, numa visão dada por Deus. Fui levado à porta norte do pátio interno do templo, onde havia um ídolo que provocou o ciúme do Senhor. 4 De repente, estava ali a glória do Deus de Israel, como eu tinha visto antes no vale.
5 Então o Senhor me disse: “Filho do homem, olhe para o norte”. Olhei para o norte e ali, perto da entrada da porta junto ao altar, estava o ídolo que havia provocado o ciúme do Senhor.
6 “Filho do homem”, disse ele, “você vê o que estão fazendo? Vê os pecados detestáveis que o povo de Israel comete para me afastar de meu templo? Venha, e eu lhe mostrarei pecados ainda mais detestáveis que estes!” 7 Então ele me levou à porta do pátio do templo, onde vi um buraco no muro. 8 Disse-me: “Agora, filho do homem, cave no muro”. Cavei no muro e encontrei uma passagem escondida.
9 “Entre”, disse ele, “e veja os pecados perversos e detestáveis que cometem ali!” 10 Entrei e vi as paredes cobertas de desenhos de toda espécie de animal que rasteja e de criaturas detestáveis. Também vi diversos ídolos[z] adorados pelos israelitas. 11 Estavam ali setenta autoridades de Israel, e no meio estava Jazanias, filho de Safã. Cada um deles segurava um incensário do qual subia uma nuvem de incenso.
12 Então o Senhor me disse: “Filho do homem, você vê o que as autoridades de Israel fazem com seus ídolos em salas escuras? Dizem: ‘O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou nossa terra!’”. 13 E acrescentou: “Venha, e eu lhe mostrarei pecados ainda mais detestáveis que estes!”.
14 Em seguida, levou-me até a porta norte do templo do Senhor, onde algumas mulheres estavam sentadas chorando pelo deus Tamuz. 15 “Filho do homem, você vê isso?”, ele perguntou. “Venha, e eu lhe mostrarei pecados ainda mais detestáveis que estes!”
16 Em seguida, levou-me para o pátio interno do templo do Senhor. Na entrada do templo, entre o pórtico e o altar, havia cerca de 25 homens com as costas para o templo do Senhor. Estavam voltados para o leste, prostrados no chão, e adoravam o sol.
17 “Filho do homem, você vê isso?”, perguntou ele. “Será que não significa nada para o povo de Judá cometer esses pecados detestáveis que levam a nação inteira à violência, que a fazem zombar de mim[aa] e provocar minha ira? 18 Por isso responderei com fúria. Não os pouparei nem terei piedade. Mesmo que clamem bem alto, não os ouvirei.”
A matança dos idólatras
9 Então o Senhor disse em alta voz: “Tragam os homens escolhidos para castigar a cidade! Digam-lhes que venham com suas armas de destruição!”. 2 Logo surgiram seis homens, vindos da porta superior, voltada para o norte, e cada um tinha na mão uma arma mortal. Estava com eles um homem vestido de linho, que levava na cintura um estojo com material de escrever. Todos entraram no pátio do templo e ficaram junto ao altar de bronze.
3 Então a glória do Deus de Israel se levantou do meio dos querubins, onde havia estado, e se moveu para a entrada do templo. O Senhor chamou o homem vestido de linho que carregava o estojo com material de escrever 4 e lhe disse: “Ande pelas ruas de Jerusalém e ponha um sinal na testa de todos que choram e gemem por causa dos pecados detestáveis cometidos em sua cidade”.
5 Em seguida, ouvi o Senhor dizer aos outros homens: “Sigam-no pela cidade e matem todos cuja testa não estiver marcada. Não mostrem compaixão nem tenham piedade! 6 Matem todos: idosos e jovens, meninas, mulheres e crianças pequenas. Mas não toquem naqueles que tiverem o sinal. Comecem aqui mesmo, no templo!”. E eles começaram pelos setenta líderes, na entrada do templo.
7 “Profanem o templo!”, o Senhor ordenou. “Encham seus pátios de cadáveres. Vão!” Então eles saíram e começaram a matança em toda a cidade.
8 Enquanto isso, fiquei sozinho. Prostrei-me com o rosto no chão e clamei: “Ó Senhor Soberano! Acaso tua fúria contra Jerusalém exterminará todos que restam em Israel?”.
9 Então ele me disse: “Os pecados do povo de Israel e de Judá são muito, muito grandes. Toda a terra se encheu de homicídio; a cidade está repleta de injustiça. Eles dizem: ‘O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou nossa terra!’. 10 Por isso não os pouparei nem terei piedade deles. Eu lhes darei o que merecem por tudo que fizeram”.
11 Então o homem vestido de linho, que carregava o estojo com material de escrever, voltou para relatar: “Fiz o que ordenaste”.
A glória do Senhor deixa o templo
10 Olhei e vi algo que se parecia com um trono de safira sobre uma superfície de cristal acima da cabeça dos querubins. 2 Então o Senhor disse ao homem vestido de linho: “Vá entre as rodas que estão debaixo dos querubins, pegue um punhado de brasas ardentes e espalhe-as sobre a cidade”. Ele assim fez enquanto eu observava.
3 Os querubins estavam na extremidade sul do templo quando o homem entrou, e a nuvem de glória encheu o pátio interno. 4 Então a glória do Senhor se elevou acima dos querubins e foi para a porta do templo. Essa nuvem encheu o templo, e o pátio resplandeceu com a glória do Senhor. 5 O movimento das asas dos querubins fazia um som como a voz do Deus Todo-poderoso,[ab] e podia-se ouvi-lo até no pátio externo.
6 O Senhor ordenou ao homem vestido de linho: “Vá entre os querubins e pegue algumas brasas ardentes que estão entre as rodas”. O homem foi e colocou-se ao lado das rodas. 7 Em seguida, um dos querubins estendeu a mão e pegou algumas brasas ardentes do fogo que estava entre os querubins. Colocou as brasas nas mãos do homem vestido de linho, e o homem as recebeu e saiu. 8 (Todos os querubins tinham debaixo das asas o que se parecia com mãos humanas.)
9 Olhei e vi que cada um dos quatro querubins tinha ao seu lado uma roda, e as rodas brilhavam como berilo. 10 As quatro rodas eram semelhantes e feitas da mesma forma; cada uma tinha dentro dela outra roda que girava na transversal. 11 Os querubins podiam se deslocar em qualquer uma das quatro direções, sem se virar enquanto se moviam. Deslocavam-se para a frente, sem se virar. 12 Tanto os querubins como as rodas eram cobertos de olhos. Os querubins tinham olhos por todo o corpo, inclusive nas mãos, nas costas e nas asas. 13 Ouvi alguém se referir às rodas como “rodas giratórias”. 14 Cada um dos quatro querubins tinha quatro rostos: o primeiro era rosto de boi,[ac] o segundo, de homem, o terceiro, de leão, e o quarto, de águia.
15 Então os querubins se elevaram. Eram os mesmos seres vivos que eu tinha visto junto ao rio Quebar. 16 Quando os querubins se moviam, as rodas se moviam com eles. Quando levantavam as asas para voar, as rodas os acompanhavam. 17 Quando os querubins paravam, as rodas paravam. Quando voavam para cima, as rodas subiam, pois o espírito dos seres vivos estava nas rodas.
18 Então a glória do Senhor se afastou da porta do templo e parou sobre os querubins. 19 E, enquanto eu observava, os querubins voaram, acompanhados de suas rodas, até a porta leste do templo do Senhor. E a glória do Deus de Israel pairava sobre eles.
20 Esses seres vivos eram os mesmos que eu tinha visto debaixo do Deus de Israel quando estava junto ao rio Quebar. Eu sabia que eram querubins, 21 pois cada um tinha quatro rostos, quatro asas e o que se parecia com mãos humanas debaixo das asas. 22 E seus rostos eram iguais aos dos seres que eu tinha visto no Quebar, e se deslocavam para a frente, como os outros.
Julgamento contra os líderes de Israel
11 Então o Espírito me pôs em pé e me levou à porta leste do templo do Senhor, onde vi 25 homens. Entre eles estavam Jazanias, filho de Azur, e Pelatias, filho de Benaia, líderes do povo.
2 O Espírito me disse: “Filho do homem, estes são os homens que planejam o mal e dão conselhos perversos nesta cidade. 3 Dizem ao povo: ‘Não acham que é uma boa hora para construir casas? Esta cidade é como uma panela de ferro; estamos seguros dentro dela, como a carne na panela’.[ad] 4 Portanto, filho do homem, profetize contra eles em alta voz”.
5 Então o Espírito do Senhor veio sobre mim e ordenou que eu dissesse: “Assim diz o Senhor ao povo de Israel: Eu sei o que vocês dizem, pois conheço cada pensamento que lhes vem à mente. 6 Assassinaram muitos nesta cidade e encheram suas ruas de cadáveres.
7 “Portanto, assim diz o Senhor Soberano: De fato, esta cidade é a panela de ferro, mas os pedaços de carne são aqueles que vocês mataram. Quanto a vocês, em breve os arrancarei da panela. 8 Trarei sobre vocês a espada de guerra que tanto temem, diz o Senhor Soberano. 9 Eu os expulsarei de Jerusalém e os entregarei a estrangeiros, que executarão meus julgamentos contra vocês. 10 Vocês serão massacrados até as fronteiras de Israel. Eu os julgarei, e vocês saberão que eu sou o Senhor. 11 Esta cidade não será para vocês como uma panela de ferro, e vocês não serão como a carne, segura dentro dela. Eu os julgarei até as fronteiras de Israel, 12 e vocês saberão que eu sou o Senhor. Pois não quiseram seguir meus decretos e estatutos; em vez disso, imitaram as práticas das nações ao seu redor”.
13 Enquanto eu ainda profetizava, Pelatias, filho de Benaia, morreu. Então prostrei-me com o rosto no chão e clamei: “Ó Senhor Soberano, matarás todos que restarem em Israel?”.
Esperança para Israel no exílio
14 Então recebi esta mensagem do Senhor: 15 “Filho do homem, aqueles que ainda restam em Jerusalém falam de você, de seus parentes e de todo o povo de Israel que está no exílio. Dizem: ‘Estão longe do Senhor, por isso agora ele nos deu a terra deles!’.
16 “Portanto, diga aos exilados: ‘Assim diz o Senhor Soberano: Embora eu os tenha espalhado entre as nações do mundo, serei um santuário para vocês durante seu tempo no exílio. 17 Eu, o Senhor Soberano, digo que os reunirei das nações onde foram espalhados e lhes devolverei a terra de Israel’.
18 “Quando eles regressarem para sua terra natal, removerão todos os resquícios de suas imagens repugnantes e de seus ídolos detestáveis. 19 Eu lhes darei um só coração e colocarei dentro deles um novo espírito. Removerei seu coração de pedra e lhes darei coração de carne, 20 para que obedeçam a meus decretos e estatutos. Então eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. 21 Quanto àqueles que anseiam por suas imagens repugnantes e seus ídolos detestáveis, darei a eles o castigo merecido por seus pecados. Eu, o Senhor Soberano, falei!”.
A glória do Senhor deixa Jerusalém
22 Então os querubins levantaram as asas, acompanhados de suas rodas, e a glória do Deus de Israel pairava sobre eles. 23 Então a glória do Senhor subiu da cidade e parou acima do monte a leste.
24 Depois disso, o Espírito de Deus me levou de volta à Babilônia,[ae] para o povo no exílio. Assim terminou a minha visão. 25 E eu relatei aos exilados tudo que o Senhor me tinha mostrado.
Sinais do exílio que está para acontecer
12 Recebi mais uma mensagem do Senhor: 2 “Filho do homem, você vive entre rebeldes que têm olhos, mas não querem ver, que têm ouvidos, mas não querem ouvir, pois são um povo rebelde.
3 “Portanto, filho do homem, prepare sua bagagem com os poucos pertences que um exilado conseguiria carregar, saia de sua casa e vá para outro lugar, como se tivesse sido enviado para o exílio. Faça isso diante de todos, para que o vejam. Talvez prestem atenção, embora sejam rebeldes. 4 Leve sua bagagem para fora durante o dia, à vista de todos. E, ao anoitecer, enquanto o observam, saia de sua casa, como fazem os exilados. 5 Faça um buraco no muro e saia por ele diante de todos. 6 Enquanto o observam, coloque sua bagagem nos ombros e caminhe na escuridão da noite. Cubra o rosto para não ver a terra que está deixando para trás, pois fiz de você um sinal para o povo de Israel”.
7 Assim, fiz o que me foi ordenado. À luz do dia, carreguei para fora minha bagagem, com as coisas que levaria para o exílio. Ao anoitecer, enquanto o povo observava, fiz um buraco no muro com as mãos e caminhei na escuridão da noite, com a bagagem sobre os ombros.
8 Na manhã seguinte, recebi esta mensagem do Senhor: 9 “Filho do homem, esses rebeldes, o povo de Israel, lhe perguntaram o que significa tudo isso que você fez. 10 Diga-lhes: ‘Assim diz o Senhor Soberano: Essas ações contêm uma advertência para o rei Zedequias, em Jerusalém,[af] e para todo o povo de Israel’. 11 Diga a todos que suas ações são um sinal para mostrar o que lhes acontecerá em breve, pois serão levados como prisioneiros para o exílio.
12 “Até mesmo Zedequias sairá de Jerusalém durante a noite, por um buraco no muro, levando somente o que conseguir carregar. Cobrirá o rosto, e seus olhos não verão a terra que ele está deixando para trás. 13 Então lançarei minha rede sobre ele e o prenderei em meu laço. Eu o levarei à Babilônia, à terra dos babilônios,[ag] mas ele não a verá, e nela morrerá. 14 Espalharei seus servos e seus guerreiros aos quatro ventos e enviarei a espada para persegui-los. 15 E, quando eu os espalhar entre as nações, eles saberão que eu sou o Senhor. 16 Contudo, livrarei uns poucos da morte por fome, guerra ou doença, para que confessem às nações para onde forem levados todos os seus pecados detestáveis. Então saberão que eu sou o Senhor”.
17 Depois, recebi esta mensagem do Senhor: 18 “Filho do homem, trema ao comer sua comida e estremeça de medo ao beber sua água. 19 Diga ao povo: ‘Assim diz o Senhor Soberano acerca dos habitantes de Israel e de Jerusalém: Com ansiedade comerão sua comida e com desespero beberão sua água, pois sua terra será completamente despojada por causa da violência dos que nela habitam. 20 As cidades serão destruídas, e os campos ficarão devastados. Então vocês saberão que eu sou o Senhor’”.
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