Bible in 90 Days
As fronteiras da terra
13 Diz o Senhor Deus: “São estas as instruções respeitantes à divisão da terra pelas doze tribos de Israel; a tribo de José, Efraim e Manassés, receberá como duas tribos. 14 As outras receberão, cada uma, uma parte. Prometi solenemente que daria a terra aos vossos pais e agora tomarão posse dela.
15 A fronteira norte irá desde o Mediterrâneo em direção a Hetlom e depois até à entrada de Zedade; 16 seguidamente, até Berotá e Sibraim, que estão na fronteira de Damasco e de Hamate; finalmente até Hazer-Haticom, junto à fronteira de Haurã. 17 Portanto, a fronteira norte será desde o Mediterrâneo até Hazar-Enom, a oriente, e fará fronteira com Hamate e Damasco a norte.
18 A fronteira oriental correrá para o sul, desde Hazar-Enom até ao monte Haurã, onde se inclinará para ocidente, para o Jordão e para a ponta sul do mar da Galileia, continuando depois para baixo, com o rio Jordão a separar Israel de Gileade, passando o mar Morto até Tamar.
19 A fronteira sul irá desde o leste, de Tamar, até à fontes de Meribá-Cades; depois segue o curso do rio do Egito até ao Mediterrâneo.
20 Do lado do ocidente, o próprio mar Mediterrâneo lhe servirá de fronteira, desde a fronteira sul até a entrada de Lebo-Hamate. Esse será o limite das terras a oeste.
21 Dividam a terra, dentro destes limites, por entre as tribos de Israel. 22 Distribuam a terra como se fosse uma herança, entre vocês e os estrangeiros que vivem convosco com as suas famílias. Todas as crianças nascidas na terra, filhas ou não de estrangeiros, devem ser consideradas como cidadãos com os mesmos direitos que os vossos próprios filhos. 23 A todos estes estrangeiros será dada terra de acordo com a tribo onde vivem atualmente. Assim diz o Senhor Deus.
A divisão da terra
48 Esta é a lista das tribos com o território que cada uma receberá.
Dan: desde a fronteira do norte, no Mediterrâneo, através de Hetlom até Hamate, e depois até Hazar-Enã, na fronteira entre Damasco, a sul, e Hamate, a norte. São esses os limites a leste e a oeste da terra.
2 Aser: o seu território fica a sul do território de Dan e tem as mesmas fronteiras a leste e a oeste.
3 Naftali: fica a sul de Aser e tem também as mesmas fronteiras a leste e a oeste.
4 Manassés: fica a sul de Naftali, com os mesmos limites a leste e a oeste.
5 A seguir, junto a Manassés para o sul, fica Efraim,
6 depois ficará Rúben e,
7 por fim Judá, todos com as mesmas linhas de limite a leste e a oeste.
8 No território de Judá, desde a fronteira oriental até ao mar Mediterrâneo, a ocidente, será reservado um território que terá a mesma extensão que o de cada tribo, ou seja, 12,5 quilómetros de extensão. O templo será estabelecido no centro desta área.
9 Além disso, haverá uma faixa de território com 12,5 quilómetros de comprimento e 5 quilómetros de largura, 10-11 de norte a sul, rodeando o templo. Será para os sacerdotes, os filhos de Zadoque que me obedeceram e não pecaram com o povo de Israel e o resto da tribo de Levi. 12 É porção especial de terra que lhe é atribuída, a mais santíssima de todas.
13 A seguir a essa área há outra onde viverão os levitas. Será do mesmo tamanho e com a mesma forma que a primeira. Juntas medirão 12,5 quilómetros por 5 quilómetros. 14 Nenhuma parte desta terra especial poderá ser vendida, negociada ou arrendada, pois pertence ao Senhor, é santa.
15 A faixa de terra de 12,5 quilómetros de comprimento por 2,5 quilómetros de largura, a sul da secção atribuída ao templo, será para uso público com a cidade no centro. 16 A própria cidade será quadrada e terá 2,5 quilómetros de largura. 17 Uma terra aberta para pastagens rodeará a cidade e terá 125 metros de extensão. 18 No exterior da cidade, estendendo-se numa faixa de 5 quilómetros a leste e a oeste, na margem da terra sagrada, haverá um campo para a agricultura, pertencente à cidade, para uso público. 19 Estará aberto a quem trabalhar na cidade, seja qual for a sua origem em Israel.
20 Toda esta área, incluindo as terras sagradas e as terras da cidade, será um quadrado com 12,5 quilómetros de largo.
21-22 A terra em ambos os lados desta área, estendendo-se para leste e oeste até às fronteiras de Israel, pertencerá ao príncipe. Esta terra, que ficará entre as porções atribuídas a Judá e Benjamim, terá 12,5 quilómetros e será quadrada, de cada lado das terras, tanto da sagrada como da terra da cidade. No meio ficará a parte reservada ao templo.
23 As secções dadas às tribos restantes são as seguintes. Benjamim: estende-se através de todo o território de Israel, desde a fronteira do oriente até à do ocidente.
24 Ao sul fica a de Simeão, estendendo-se igualmente entre estas as fronteiras oriental e ocidental.
25 Depois é Issacar com os mesmos limites.
26 A seguir vem Zebulão com a mesma forma.
27 Gad também com os mesmos limites.
28 Mas a sua fronteira a sul vai de Tamar até às fontes de Meribá-Cades, seguindo depois pela Ribeira do Egito até ao Mediterrâneo.
29 É este o loteamento que se fará entre cada tribo, conforme a palavra do Senhor Deus.
As portas da cidade
30-31 Cada porta da cidade terá o nome de cada uma das tribos de Israel em sua honra. A norte, na sua muralha de 2,25 quilómetros, haverá três entradas, uma com o nome de Rúben, outra de Judá e outra de Levi. 32 A leste, na muralha igualmente de 2,25 quilómetros, haverá também três portas, com os nomes de José, Benjamim e Dan. 33 A sul, na muralha que terá o mesmo comprimento, haverá as portas de Simeão, Issacar e Zebulão. 34 E a oeste, da mesma maneira, ver-se-ão as portas de Gad, Aser e Naftali.
35 O perímetro total da cidade medirá 9 quilómetros e chamar-se-á:
o Senhor está ali.”
A preparação de Daniel na Babilónia
1 Três anos depois do rei Joaquim ter começado a reinar em Judá, o rei da Babilónia, Nabucodonozor, atacou Jerusalém com os seus exércitos. 2 E o Senhor deu-lhe a vitória sobre Joaquim. Antes de regressar a Sinar (Babilónia), retirou algumas das taças sagradas do templo de Deus e pô-las depois no tesouro do seu deus.
3 Então mandou a Aspenaz, que era o chefe do pessoal de serviço no palácio real, que selecionasse alguns dos jovens judeus trazidos como cativos; 4 mancebos de linhagem real, pertencentes à nobreza de Judá, para lhes ensinar a língua dos caldeus e a sua cultura. “Escolham-me uns moços fortes, saudáveis e de bela aparência!”, disse ele. “Devem ser instruídos em todos os domínios do saber, com uma boa cultura geral, e estar preparados para viver no palácio.” 5 O rei ordenou que lhes dessem do melhor alimento a comer e do melhor vinho a beber, de tudo aquilo que era servido a ele próprio; e isso durante três anos, para que no final desse período de preparação viessem a ser seus conselheiros.
6 Daniel, Hananias, Misael e Azarias foram quatro dos jovens escolhidos de todas as tribos de Judá. 7 O responsável pela sua formação pôs-lhes outros nomes, nomes babilónicos. A Daniel chamou Beltessazar, a Hananias, Sadraque, a Misael, Mesaque e a Azarias, Abednego.
8 Mas Daniel assentou no seu coração não se contaminar com o alimento e o vinho que o rei lhes dava. Pediu então a esse responsável que lhes permitisse alimentarem-se de outras coisas. 9 Aconteceu até que Deus fez com que esse homem tivesse uma certa simpatia especial por Daniel e usasse de uma certa tolerância. 10 No entanto, ficou alarmado com a sugestão de Daniel: “Tenho receio que vocês fiquem com um aspeto mais débil, quando comparados com os outros da vossa idade, e que o rei me mande decapitar por ter negligenciado as minhas responsabilidades!”
11 Daniel foi ter com o mordomo, a quem o responsável tinha encarregado de cuidar de Daniel, Hananias, Misael e Azarias. 12 Sugeriu-lhe que durante dez dias os deixasse submeterem-se a um regime apenas de vegetais e água. 13 No final desse período, o mordomo poderia comparar a aparência deles com a dos outros que comiam da comida do rei e logo veria se continuariam com esse regime alimentar.
14 O mordomo acabou por concordar. 15 No fim dos dez dias, Daniel e os seus três amigos pareciam mais saudáveis e mais bem alimentados que os jovens que tinham comido a comida real. 16 O mordomo passou a dar-lhes unicamente vegetais e água, retirando-lhes da alimentação os outros ricos pratos e os vinhos.
17 Deus concedeu a estes quatro moços uma grande capacidade de aprendizagem, de tal forma que em breve dominavam os conhecimentos e a cultura daquele tempo. Deus deu mesmo a Daniel uma competência especial para compreender o significado de sonhos e visões.
18 Quando aquele período de três anos de preparação e estudo se completou, o responsável nomeado pelo soberano trouxe todos os mancebos à presença deste, para serem examinados. 19 O rei Nabucodonozor conversou longamente com cada um deles, mas aqueles que mais o impressionaram foram, sem dúvida, Daniel, Hananias, Misael e Azarias. E passaram a ocupar o seu lugar na equipa de conselheiros reais. 20 Em todos os assuntos em que se requeria uma informação exata e a emissão de pareceres inteligentes, o rei achava os juízos destes jovens sempre dez vezes melhores que os dos magos e adivinhos do seu reino.
21 Daniel manteve-se nesse lugar de conselheiro do rei até ao primeiro ano do reinado de Ciro[a].
O sonho de Nabucodonozor
2 Uma certa noite, no segundo ano do seu reinado, Nabucodonozor teve um terrível pesadelo e acordou tremendo de terror. O seu espírito ficou tão aflito que não conseguia dormir. 2 Chamou imediatamente todos os seus magos, astrólogos, encantadores, feiticeiros e ordenou-lhes que lhe lembrassem o sonho que tinha tido:
3 “Tive um certo sonho”, disse-lhes, quando se apresentaram na sua presença, “e sinto-me muito incomodado sem saber o que significava.”
4 Os outros, expressando-se em aramaico, disseram-lhe: “O rei que nos diga primeiro o sonho que teve e depois poderemos explicar-lhe o seu significado.”
5 Mas o rei replicou: “Já vos disse que se não me disserem o que foi com que eu sonhei e não me explicarem o seu sentido, despedaçar-vos-ei e as vossas casas serão feitas num montão de ruínas! 6 Se, pelo contrário, me contarem o sonho e o seu significado, encher-vos-ei de presentes, benefícios e honrarias. Portanto, fico à espera!” 7 E aqueles homens tornaram a responder-lhe: “Mas como poderemos dizer o significado do sonho se não o contares previamente?”
8 “Vocês estão a ver se ganham tempo, pois sabem que estou decidido a cumprir o que disse. 9 Estão a preparar-se para me enganar com uma explicação qualquer, a ver se me esqueço do assunto e mudo de ideias. Mas não, digam-me com o que sonhei e só assim acreditarei na interpretação que me derem.”
10 “Não há homem algum sobre a face da Terra que seja capaz de dizer que sonho é que tiveste! Como também não há rei algum do mundo que exija semelhante coisa dos seus súbditos! 11 O que o rei exige é uma coisa impossível. Ninguém, exceto unicamente os deuses, podem dizer-te o sonho que tiveste, e eles não estão aqui para intervir.”
12 Ao ouvir isto o rei ficou profundamente irado e deu ordens para que todos os sábios da Babilónia fossem executados. 13 Foram então buscar Daniel e os seus companheiros para serem mortos.
14 Mas quando Arioque, o chefe da guarda real, veio para os levar, com muita sabedoria e bom senso, Daniel dominou a situação, perguntando: 15 “Porque é que o rei está assim tão zangado? O que é que se passou?” Arioque contou-lhe tudo o que acontecera.
16 Daniel pediu uma audiência com o soberano e disse-lhe: “Dá-me só um pouco de tempo e contar-te-ei o sonho que tiveste e o seu significado.”
17 Depois foi para casa e expôs a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, toda a situação. 18 Pediram ao Deus do céu que lhes mostrasse misericórdia, dando-lhes a conhecer esse sonho misterioso, para que não tivessem de perder a vida juntamente com todos os outros. 19 Nessa mesma noite, Deus contou a Daniel, numa visão, o que o rei tinha sonhado. Daniel louvou o Deus do céu:
20 “Louvado seja o nome de Deus por toda a eternidade,
porque só ele tem toda a sabedoria e todo o poder.
21 Tudo o que se passa neste mundo está sob o seu controlo.
Remove governantes dos seus lugares e põe outros no poder.
É ele quem dá a sabedoria aos sábios e a inteligência aos homens cultos.
22 Só ele pode revelar os mistérios que ultrapassam a compreensão humana.
Conhece tudo o que não está revelado, porque ele é a luz;
as trevas não são um obstáculo para ele.
23 Eu te agradeço e te louvo, ó Deus dos meus antepassados,
porque me deste inteligência e capacidade,
e ainda me revelaste nesta visão o sonho do rei e o seu sentido.”
Daniel interpreta o sonho
24 Daniel foi ter com Arioque, que se mantinha obrigado a cumprir a ordem do rei de executar todos os sábios, e disse-lhe: “Suspende essa execução! Leva-me junto do rei e eu lhe revelarei aquilo que ele pretende saber!”
25 Arioque apressou-se a levar Daniel até ao rei, dizendo: “Aquele tal, que é dos cativos de Judá, é capaz de te contar o sonho!”
26 O rei perguntou a Daniel, também chamado Beltessazar: “É verdade? Podes dizer-me o sonho que eu tive e qual é o seu significado?”
27 “Não há sábio, nem astrólogo, nem mago, nem adivinho algum que pudesse revelar-te semelhante coisa. 28 Mas há um Deus no céu que revela os segredos; ele contou-te no sonho que tiveste o que acontecerá no futuro. O teu sonho foi como se segue.
29 Sonhaste coisas que hão de vir a acontecer. Aquele que revela segredos esteve a falar contigo. 30 Lembra-te de que não é por eu ser mais sábio do que qualquer outra pessoa que conheço o segredo do teu sonho; se Deus mo revelou foi para teu benefício.
31 Ó rei, tu viste uma estátua descomunal que tinha um esplendor fantástico e tremendo. 32 A cabeça da estátua era feita do mais puro ouro, o peito e os braços eram de prata, o ventre e as coxas de cobre; 33 as pernas eram de ferro e os pés parte de ferro e parte de barro. 34 Enquanto estavas a olhar, uma rocha foi retirada da montanha por um poder sobrenatural e foi arremessada contra a estátua e esmagou-lhe os pés de ferro e barro, fazendo-os em pedaços. 35 Então deu-se a derrocada de toda a estátua e o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro desfizeram-se em pedaços, de tal maneira esmiuçados que o vento os levou como se fossem palha e nunca mais se viram. Contudo, a rocha que feriu a estátua tornou-se ela própria uma grande montanha que ocupou a Terra inteira.
36 Foi este o sonho que tiveste e este é o seu significado. 37 Tu és rei sobre reis, porque foi Deus quem te deu o teu reino, o poder, a força e a glória. 38 O teu domínio estende-se às regiões mais afastadas; mesmo os animais e as aves estão sob o teu controlo por vontade de Deus. Tu és essa cabeça de ouro da estátua.
39 Mas quando o teu reino tiver chegado ao fim, um outro poder mundial se levantará e tomará o teu lugar. Esse império será inferior ao teu; depois de cair levantar-se-á um terceiro, representado pelo ventre de bronze da estátua, que regerá o mundo. 40 Um quarto poder virá, tão forte como o ferro, que esmagará, destruirá e conquistará. 41 Os pés que viste, parte de ferro e parte de barro, mostram que mais tarde este reino se dividirá. 42 Uma parte tornar-se-á tão forte como o ferro e outra tão frágil como o barro. 43 Esta mistura de ferro e de barro revela igualmente que estes reinos hão de tentar aumentar o seu poder através de alianças de casamentos entre os seus chefes; mas não resultará, porque o ferro e o barro não podem unir-se.
44 Durante os reinados destes reis, o Deus do céu estabelecerá um reino que nunca mais será destruído; nunca ninguém o conquistará. Consumirá todos estes reinos e reduzi-los-á a nada; mas ele permanecerá para sempre indestrutível. 45 Este é o sentido da rocha arrancada da montanha, sem ser por mãos humanas, a rocha que desfaz em poeira o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro.
Assim, o grande Deus revela o que acontecerá no futuro e esta interpretação do teu sonho é tão segura e certa como foi a descrição que dele fiz!”
46 Nabucodonozor inclinou-se até ao chão perante Daniel, ordenando ao povo que lhe oferecesse sacrifícios e perfumes suaves. 47 “Verdadeiramente, ó Daniel”, disse o rei, “o teu Deus é o Deus dos deuses, Senhor dos reis, revelador de mistérios, pois revelou-te este segredo!”
48 Então o rei engrandeceu muito Daniel; deu-lhe uma grande quantidade de presentes de alto valor e nomeou-o governador de toda a província da Babilónia, assim como chefe de todos os sábios do país. 49 Depois, a pedido de Daniel, o rei designou Sadraque, Mesaque e Abednego como seus adjuntos na administração da província da Babilónia. Daniel tinha a função de magistrado principal na corte do rei.
A estátua de ouro
3 O rei Nabucodonozor fez uma estátua de ouro, de 30 metros de altura e 3 metros de largura; mandou erguê-la na planície de Dura na província da Babilónia. 2 Seguidamente mandou mensagens a todos os governantes, altas individualidades, chefes militares, juízes, administradores das finanças públicas, conselheiros, autarcas e governadores de províncias do seu império, convidando-os a estarem presentes na consagração da sua estátua. 3 Depois dessas pessoas terem chegado, e quando estavam diante do monumento, 4 um arauto proclamou: “Ó povos de todas as nações e línguas, esta é a ordem do rei. 5 Quando ouvirem a música, o conjunto instrumental formado pelos clarins, flautas, harpas, sambucas, saltérios, gaitas-de-fole e toda a espécie de instrumentos, deverão prostrar-se até ao chão para adorar a estátua de ouro do rei Nabucodonozor. 6 Seja quem for que recusar obedecer a esta ordem será imediatamente lançado numa fornalha ardente!”
7 Assim, logo que a tal banda começou a tocar, toda a gente, de todas as nações, línguas e religiões se inclinou até à terra e adorou a estátua.
8 Aconteceu, no entanto, que alguns funcionários foram ter com o rei, acusando certos judeus de terem recusado adorar.
9 “Que vossa Majestade viva para sempre!”, disseram eles ao rei Nabucodonozor. 10 “Fizeste uma lei ordenando que toda a gente deveria inclinar-se em adoração perante a tua estátua de ouro, no momento em que a banda começasse a tocar. 11 E qualquer pessoa que recusasse fazê-lo seria lançada num forno de chamas ardentes. 12 Há contudo uns judeus, chamados Sadraque, Mesaque e Abednego, a quem deste responsabilidades no governo da Babilónia, que te ofenderam, recusando servir o ídolo do teu deus ou adorar a estátua de ouro que ergueste.”
13 Então Nabucodonozor, furioso e enraivecido, deu ordens para que esses três homens fossem trazidos à sua presença. 14 “É verdade, Sadraque, Mesaque e Abednego”, perguntou-lhes, “que se recusaram servir os meus deuses e adorar a estátua de ouro que mandei erguer? 15 Se assim é, vou dar-vos mais uma oportunidade. Quando a música começar a tocar, se se inclinarem para adorar a estátua, fica tudo bem, mas se recusarem fazê-lo serão lançados no forno flamejante, nessa mesma hora. Veremos se há algum outro deus que vos possa livrar das minhas mãos!”
16 Os três homens responderam: “Ó Nabucodonozor, não precisamos de te responder sobre isso! 17 Se formos lançados dentro da fornalha, o nosso Deus será capaz de nos libertar. Ele nos livrará das tuas mãos! 18 Mas mesmo que não nos livre, fica sabendo, ó majestade, que nunca serviremos os teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que mandaste edificar!”
Os três homens lançados na fornalha
19 Nabucodonozor encheu-se de furor, o seu rosto ficou vermelho de ira e mandou acender o forno e aquecê-lo sete vezes mais do que habitualmente. 20 Fez vir uns homens dos mais fortes do seu exército, para atarem os três judeus, e deu ordem para que os lançassem na fornalha. 21 E assim aconteceu, depois de serem ligados com cordas fortes foram deitados às chamas, completamente vestidos, com a própria roupa que traziam. 22 Como o soberano, na sua fúria, tinha ordenado um aquecimento excecional do forno, as chamas saíam para o exterior e chegaram a matar os soldados, quando estes atiravam os três homens lá para dentro. 23 Dessa forma, Sadraque, Mesaque e Abednego caíram atados dentro do forno de fogo ardente.
24 Mas de repente, Nabucodonozor, que estava a olhar para a cena, deu um salto de espanto e exclamou para os seus conselheiros: “Não foram três os indivíduos que deitámos para dentro da fornalha?”
“Sim, é claro, majestade!”, retorquiram.
25 “Então olhem bem! Eu estou a ver quatro homens desatados, passeando no meio do fogo e as chamas nada lhes fazem! Reparem que o quarto tem o aspeto de um filho dos deuses!”
26 Nabucodonozor aproximou-se da porta aberta do forno e gritou: “Sadraque, Mesaque e Abednego, servos do Deus altíssimo! Saiam daí! Venham cá!” E eles saíram do meio do fogo.
27 Os príncipes, os governadores, os capitães e os conselheiros juntaram-se à volta dos três homens e constataram que o fogo em nada os tinha afetado; nem mesmo um cabelo da sua cabeça se tinha queimado; as suas roupas não estavam sequer chamuscadas e nem cheiravam a queimado.
28 Disse o rei Nabucodonozor: “Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, porque mandou o seu anjo para livrar os seus servos que confiaram nele e recusaram obedecer à ordem do rei, preferindo antes morrer do que servir e adorar qualquer outro deus além do seu Deus. 29 Por isso, faço agora outro decreto pelo qual qualquer pessoa, seja de que nação, língua ou religião for, que disser qualquer frase ofensiva contra o Deus de Sadraque, de Mesaque e de Abednego será despedaçado e a sua casa feita num montão de ruínas, pois não há outro deus que possa livrar como este!”
30 Então o rei fez prosperar estes três homens e promoveu-os a cargos superiores no governo da província da Babilónia.
Nabucodonozor sonha com uma árvore
4 Esta foi a proclamação que o rei Nabucodonozor enviou aos povos de todas as línguas das nações do mundo.
Paz vos seja multiplicada!
2 Pareceu-me bem tornar conhecidos os sinais e maravilhas que o Deus altíssimo realizou.
3 Foi qualquer coisa de incrível, um poderoso milagre!
E agora sei, de certeza, que o seu reino é eterno;
o seu domínio estende-se pelos séculos dos séculos.
4 Eu, Nabucodonozor, vivia tranquilo no meu palácio, rodeado de prosperidade. 5 Até que uma noite tive um sonho que verdadeiramente me aterrorizou. 6 Chamei então todos os sábios da Babilónia, para que me esclarecessem sobre a interpretação do meu sonho. 7 No entanto, quando se apresentaram os mágicos, astrólogos, adivinhos e feiticeiros, depois de lhes ter contado o sonho, não houve nenhum que fosse capaz de interpretá-lo. 8 Por fim, apresentou-se Daniel, esse homem a quem dei o nome de Beltessazar, de acordo com o nome do meu deus e sobre quem está o espírito dos deuses santos, e descrevi-lhe o sonho.
9 Ó Beltessazar, chefe dos magos, disse-lhe eu, sei que o espírito dos deuses santos está sobre ti e que nenhum segredo te é demasiado difícil de desvendar. Diz-me o significado do meu sonho. 10 Vi uma árvore muito alta no meio dum campo. 11 Esta ia-se tornando sempre cada vez mais alta, em direção aos céus, até que podia ser vista por toda a gente no mundo. 12 As suas folhas eram frescas e verdes, os seus ramos vergavam sob o peso de frutos abundantes, frutos que podiam servir de alimento para toda a gente. Os animais selvagens descansavam à sua sombra e os pássaros faziam os ninhos nos seus ramos. Todo o mundo dependia dela.
13 Durante o meu sono, vi um anjo, um vigilante santo que desceu do céu. 14 E este gritou: “Derrubem a árvore; cortem-lhe os ramos, sacudam-lhe as folhas e espalhem os frutos. Espantem os animais que viviam à sua sombra e afugentem os pássaros das ramagens. 15 Deixem, no entanto, o cepo e as raízes no chão, ligado com cadeias de ferro e bronze; deixem que a erva cresça em volta.
Será molhado pelo orvalho e essa erva alimentará tanto os animais selvagens como ele próprio! 16 Durante sete anos a sua natureza alterar-se-á; perderá o entendimento de homem ficando como um animal.
17 Isto é decretado pelos vigilantes por mandado dos santos. O objetivo deste decreto é que toda a gente possa compreender que o Altíssimo tem o domínio dos estados do mundo e os dá a quem quer; até o menos notável dos homens pode constituir sobre eles para os governar!”
18 Foi este o sonho que eu, o rei Nabucodonozor, tive. Tu, Beltessazar, podes certamente fazer aquilo que mais ninguém foi capaz, que é dar-me a explicação do sentido deste meu sonho, visto que há em ti o espírito dos deuses santos.
Daniel interpreta o sonho
19 Daniel ficou perplexo durante algum tempo e perturbado nos seus pensamentos.
Por fim, o rei dirigiu-lhe de novo a palavra: Beltessazar, não fiques assim agastado com a interpretação deste sonho! E Daniel respondeu-lhe. “Meu senhor, eu bem desejaria que os acontecimentos que este sonho prevê pudessem acontecer antes aos teus inimigos! 20 A árvore que viste crescer assim tão alto, atingindo os céus de forma que toda a gente podia vê-la, 21 com as suas folhas verdes, carregada de frutos para alimento de todas as pessoas, com animais selvagens vivendo à sua sombra e as aves aninhando-se nos seus ramos, 22 essa árvore és tu, majestade; tornaste-te grande e poderoso; a tua magnificência atingiu os céus e o teu domínio os confins da Terra.
23 Então viste um anjo, um vigilante santo que veio dos céus dizer: ‘Cortem a árvore, derrubem-na, mas deixem o cepo e as raízes na terra, com a erva crescendo em torno e presa com cadeias de ferro e bronze! Que se cubra o orvalho dos céus! Que se alimente de erva, durante sete anos, como os animais do campo!’
24 Majestade, o Altíssimo decretou e certamente irá acontecer! 25 Serás expulso do convívio com os seres humanos e viverás no campo como um animal, comendo erva como um boi; os teus lombos se cobrirão de orvalho. Durante sete anos viverás dessa forma, até aprenderes que o Deus altíssimo tem o domínio das nações deste mundo e dá o governo delas a quem entende. 26 No entanto, o cepo e as raízes foram deixadas na terra! Isto significa que retomarás de novo o teu reino, depois de teres reconhecido o poder do céu. 27 Ó rei Nabucodonozor, escuta-me e para de pecar! Pratica aquilo que sabes ser a justiça! Sê misericordioso para com os pobres. Talvez Deus te possa ainda poupar.”
O sonho é realizado
28 O certo é que todas estas coisas vieram a acontecer a Nabucodonozor. 29 Doze meses depois de ter tido o sonho, passeava despreocupadamente no terraço do seu palácio, na Babilónia. 30 Dizia assim: Foi pelo meu grande poderio que se construiu esta bela cidade para sede da minha corte e capital do meu império!
31 Estava ainda proferindo estas palavras quando uma voz o chamou do céu: “Ó rei Nabucodonozor, esta mensagem é para ti! Não és mais o rei desta nação. 32 Serás expulso do convívio com os seres humanos e viverás com os animais! Comerás erva como os bois, durante sete anos, até reconheceres que Deus tem domínio sobre as nações e dá o seu governo a quem entender!”
33 Nessa mesma ocasião, cumpriu-se a palavra anunciada. Nabucodonozor foi lançado fora do convívio com os seres humanos e passou a comer erva; o seu corpo cobria-se de orvalho. Cresceu-lhe o cabelo, que parecia penas de águia, e apareceram-lhe garras como nas aves.
34 Ao fim dos sete anos, eu, Nabucodonozor, levantei os olhos para o céu, retomei o meu entendimento normal, louvei e adorei o Deus altíssimo; honrei aquele que vive eternamente, cujo domínio não tem fim, cujo reino dura para sempre. 35 Os povos da Terra são como nada comparados com ele. Faz o que entende por melhor com os habitantes do céu, tal como os moradores da Terra. Ninguém se lhe pode opor nem perguntar-lhe: “Para que serve o que fazes?”
36 Quando readquiri as faculdades mentais, também me foi devolvida a honra e a glória do meu reino. Os meus conselheiros e ministros regressaram à corte e fui restabelecido como senhor do meu reino, com ainda maior magnificência do que antes. 37 Agora, eu, Nabucodonozor, louvo, glorifico e honro o Rei do céu, o juiz da humanidade, cujas obras são sempre justas e boas. Ele pode humilhar os que se conduzem com soberba!
A escrita misteriosa na parede
5 O rei Belsazar convidou mil dos seus nobres para um grande banquete e o vinho correu a jorros. 2 Numa altura em que Belsazar estava a beber, lembrou-se das taças de ouro e prata que tinham sido trazidas, havia já muito tempo, do templo de Jerusalém para a Babilónia, durante o reinado de Nabucodonozor. 3 Deu então ordens que essas taças sagradas fossem trazidas ali, para o banquete; depois, beberam por elas os governantes, as suas mulheres e concubinas, 4 erguendo-as em sinal de louvor aos seus ídolos feitos de ouro, prata, cobre, ferro, de madeira e de pedra.
5 De repente, enquanto bebiam por aquelas taças, viram uns dedos de mão humana escrevendo no estuque da parede que estava em frente do castiçal. O próprio rei viu os dedos a escreverem. 6 Ficou lívido de terror, de maneira que até os joelhos lhe começaram a tremer e não se aguentou mais nas pernas.
7 “Tragam cá os magos e os astrólogos!”, gritou ele. “Tragam também os adivinhos! Quem for capaz de explicar o significado das palavras que ali estão na parede e de interpretar o sentido daquilo será vestido com roupa de púrpura de dignidade real, ser-lhe-á posto um colar de ouro ao pescoço e tornar-se-á o terceiro na hierarquia dos chefes do reino!”
8 Mas quando os homens requeridos se apresentaram, nenhum foi capaz de compreender a frase escrita e de esclarecer o seu sentido. 9 O rei estava cada vez mais assustado; o seu rosto refletia todo o terror que sentia; a sua corte estava igualmente extremamente perturbada.
10 Quando a rainha-mãe ouviu o que se estava a passar, correu até ao local do banquete e disse a Belsazar: “Acalma-te, ó rei! Não fiques assim tão perturbado e com o rosto alterado. 11 Porque há um homem no teu reino que tem nele o espírito dos deuses santos. Quando teu pai vivia, esse homem foi reconhecido como sendo cheio de sabedoria e de inteligência, como se fosse ele próprio um deus. No reinado de Nabucodonozor, teu antecessor, foi nomeado chefe dos magos, dos astrólogos, dos caldeus e dos adivinhos da Babilónia. 12 Convoca agora esse homem, Daniel ou Beltessazar, como o rei lhe chamava, porque o seu espírito está cheio de conhecimento e de inteligência superiores. É capaz de interpretar sonhos, explicar enigmas e achar a solução para os problemas mais complexos. Ele dir-te-á qual o significado dessa frase!”
13 Daniel foi trazido à presença do soberano que lhe perguntou: “És Daniel, aquele judeu que o rei Nabucodonozor trouxe de Israel como cativo? 14 Ouvi dizer que tens o espírito dos deuses em ti e que estás cheio de entendimento e tens uma inteligência iluminada. 15 Os meus sábios e os astrólogos tentaram perceber aquele escrito na parede, para me esclarecer sobre o seu sentido, e não foram capazes. 16 Também me disseram que sabes explicar toda a espécie de mistérios. Se souberes interpretar aquelas palavras, vestir-te-ei com roupa de púrpura, por-te-ei um colar de ouro ao pescoço e serás o terceiro na hierarquia do poder na Babilónia.”
17 Respondeu Daniel: “Não pretendo os teus dons, poderás dá-los a outra pessoa! Contudo, dir-te-ei o sentido daquela frase.
18 Ó rei, o Deus altíssimo concedeu a Nabucodonozor, teu pai, um reino cheio de majestade, honra e glória. 19 Concedeu-lhe tal majestade que todas as nações do mundo tremiam de medo perante ele. Matava quem lhe desagradava e favorecia aqueles de quem gostava. Conforme ele queria, engrandecia ou abatia. 20 Mas quando o seu coração se exaltou e o seu espírito se endureceu de orgulho, Deus removeu-o do trono real e tirou-lhe todo o fausto de que se rodeava. 21 Foi expulso do convívio com os seres humanos e mandado para os campos. Os seus pensamentos e sentidos tornaram-se nos de um animal e passou a viver entre jumentos monteses; comia erva como os bois e o seu corpo ficou húmido com o orvalho, até que reconheceu, por fim, que é o Altíssimo quem dirige os governos das nações; é ele quem designa quem quer para governar sobre elas.
22 E tu, seu sucessor, ó Belsazar, sabes bem isto tudo, mas não te tornaste humilde. 23 Tu ofendeste o Senhor dos céus, quando trouxeste para cá essas taças do seu templo; tu, os teus ministros, as suas mulheres e concubinas beberam vinho por elas, enquanto davam louvores a deuses de ouro, prata, cobre, ferro, madeira e pedra, deuses que nem veem, nem ouvem, nem sabem coisa nenhuma. Não deste louvores ao Deus que te dá a própria vida e controla o teu destino! 24-25 Por isso, Deus mandou-te uns dedos que escreveram esta mensagem:
mene, mene, tequel, parsin.
26 E é este o significado:
Mene quer dizer contado. Deus já determinou o número limite dos dias do teu reinado, que chegaram ao fim.
27 Tequel quer dizer pesado. Foste pesado na balança de Deus e foste achado em falta.
28 Parsin significa dividido. O teu reino será repartido e dado aos medos e aos persas.”
29 Então Belsazar mandou que Daniel fosse vestido de púrpura, que lhe pusessem um colar de ouro no pescoço e que o proclamassem terceiro na hierarquia real.
30 Nessa mesma noite, Belsazar, rei dos caldeus, foi morto; 31 Dario, o medo, entrou na cidade e começou a reinar com a idade de 62 anos.
Daniel na cova dos leões
6 Dario decidiu dividir o reino em 120 províncias, cada uma sob um governador. 2 Estes governadores eram responsáveis perante três presidentes, sendo Daniel um deles. Desta forma o rei podia administrar a nação com mais eficiência. 3 Daniel deu provas de ser mais competente do que os outros presidentes e governadores, pois tinha grandes capacidades. O rei começou assim a fazer planos para alargar a sua área de ação, pondo-o como seu colaborador na administração de todo o império. 4 Isto fez com que os outros presidentes e governadores se sentissem despeitados e começassem à procura da mais pequena falta na forma como Daniel conduzia os negócios do reino, a fim de apresentarem logo queixa ao rei contra ele. Mas o certo é que não conseguiam encontrar nele motivo nenhum para ser criticado.
5 Daniel era uma pessoa fiel, honesta e não cometia erros. Por isso, concluíram: “A nossa única hipótese está na sua própria religião!” 6 Decidiram então ir falar ao rei nestes termos: “Rei Dario, vive para sempre! 7 Nós, presidentes, governadores, conselheiros e deputados concordámos unanimemente que devíamos pedir-te para fazeres uma lei, irrevogável sob circunstância alguma, pela qual, nos próximos trinta dias, alguém que pedir um favor a um deus ou a algum homem, que não seja a ti, ó majestade, deverá ser lançado na cova dos leões. 8 Pedimos-te que assines essa lei, para que não possa ser revogada nem alterada. Será uma lei dos medos e dos persas que não pode ser modificada.”
9 Então Dario assinou a lei.
10 Daniel tomou conhecimento disso tudo. Foi para casa e ajoelhou-se para orar, como sempre fazia, no seu quarto, com as janelas abertas, na direção de Jerusalém. Daniel costumava orar três vezes ao dia e dava graças ao seu Deus.
11 Aqueles homens foram à casa de Daniel e acharam-no orando, pedindo favores ao seu Deus. 12 Correram de novo para junto do soberano e lembraram-lhe a lei que acabara de fazer. “Não assinaste tu um decreto segundo o qual era proibido fazer qualquer petição a um deus ou a algum homem, que não fosse a ti, e isto durante trinta dias? E que se alguém desobedecesse a esta lei seria lançado na cova dos leões?”
“Sim, é verdade, é uma lei dos medos e dos persas que se não pode revogar!”
13 “Pois fica sabendo que esse Daniel, dos cativos judeus, não faz caso de ti nem das tuas leis! Pede favores ao seu Deus três vezes ao dia!”
14 Ao ouvir isto, o rei ficou muito angustiado, por ter sido levado a assinar tal lei, e decidiu para consigo fazer tudo para salvar Daniel. Passou o resto do dia a pensar como haveria de livrá-lo.
15 Ao anoitecer os homens voltaram de novo à presença do rei: “Majestade, não há nada que possas fazer! Assinaste a lei, não pode ser revogada!”
16 O rei deu então ordem para prenderem Daniel e este foi levado para a cova dos leões. O rei ainda lhe disse: “Daniel! Que o teu Deus, a quem tu continuamente adoras, te livre!”
17 Depois lançaram-no na cova. Trouxeram uma pedra que puseram sobre a entrada da cova e o rei selou-a com o seu próprio anel e com o da administração pública, para que ninguém pudesse tirar Daniel dali.
18 O rei voltou para o palácio e foi deitar-se sem nada ter comido. Recusou o habitual serão de música e não conseguiu dormir a noite toda.
19 Logo de manhã cedo foi a correr à cova dos leões. 20 E chamou em tom angustiado: “Daniel, servo do Deus vivo, dar-se-á o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, te tenha podido salvar dos leões?”
21 Então ouviu-se a voz de Daniel: “Ó rei, vive para sempre! 22 O meu Deus enviou o seu anjo que fechou a boca dos leões e estes não puderam tocar-me. Porque estou inocente perante Deus e nunca cometi delito algum contra ti, ó rei!”
23 O soberano não conteve a sua alegria e mandou logo que Daniel fosse dali tirado. Verificou-se que não sofrera a mais pequena beliscadura, porque creu no seu Deus.
24 O rei mandou que fossem trazidos os acusadores de Daniel e lançou-os na cova dos leões, juntamente com as mulheres e os filhos. Os leões, mal as pessoas chegaram ao fundo da cova, já lhes estavam a esmagar os ossos.
25 Posteriormente, o rei Dario dirigiu a seguinte mensagem a todos os povos do seu império:
Que haja muita paz entre todos!
26 Nesta mesma data vou decretar uma lei segundo a qual toda a gente no meu reino deverá respeitar e temer profundamente o Deus de Daniel.
O seu Deus é vivo,
é um Deus que não muda
e cujo reino nunca será destruído;
o seu poder não tem fim.
27 Ele livra o seu povo, preserva-o do mal.
Faz grandes milagres tanto na Terra como no céu.
Foi ele quem livrou Daniel do poder dos leões.
28 Desta forma, Daniel prosperou durante o reinado de Dario e também durante o reinado de Ciro, o persa.
O sonho dos quatro animais
7 Uma noite, durante o primeiro ano do reinado de Belsazar, rei da Babilónia, Daniel teve um sonho e relatou-o por escrito. Foi assim: 2 No meu sonho estava a assistir a uma tremenda tempestade num grande oceano, com fortes ventos soprando em todas as direções. 3 Então quatro enormes animais saíram do mar, todos eles diferentes.
4 O primeiro era semelhante a um leão, mas tinha asas de águia; no entanto, estas encontravam-se arrancadas e, por isso, não podia mais voar; estava de pé, sobre duas patas, como um ser humano; foi-lhe mesmo dada uma mente humana.
5 O segundo parecia-se com um urso, levantado sobre as suas patas traseiras. Vi-lhe três costelas entre os dentes e ouvi uma voz que lhe dizia: “Levanta-te! Devora muita gente!”
6 O terceiro destes animais parecia-se com um leopardo, mas no seu dorso tinha asas como os pássaros, e quatro cabeças! Foi-lhe dado grande poder sobre o género humano.
7 Enquanto continuava a olhar, no meu sonho, um quarto animal levantou-se das águas, terrível e espantoso. Devorava as vítimas, desfazendo-as primeiro em pedaços, com grandes dentes de ferro e pisando-as sob as patas. Era de longe muito mais brutal e feroz que os anteriores e tinha dez chifres.
8 Atentando para esses chifres, reparei que nascia entre eles um outro mais pequeno e que, na sequência disso, três dos outros foram arrancados com a raiz e tudo, para lhe deixar espaço; essa ponta mais pequena tinha olhos humanos; tinha também uma boca, com a qual falava com grande arrogância.
9 A certa altura, foram colocados uns tronos e um ancião de idade avançada sentou-se para julgar. A roupa que trazia vestida era da maior alvura e o seu cabelo era branquíssimo. Estava sentado num trono feito de chamas, o qual se deslocava sobre rodas de fogo; 10 um rio de fogo jorrava dele; tinha milhões de anjos ao seu serviço; centenas de milhões de pessoas esperavam as suas ordens e serviam-no; então o tribunal começou a sua sessão e foram abertos os livros.
11 Continuando eu a olhar, o quarto animal brutal foi morto e o seu corpo ligado para ser queimado, por causa da sua altivez para com o Deus poderoso e por causa da soberba do seu chifre mais pequeno. 12 Quanto aos outros três animais, foi-lhes retirado o seu domínio; no entanto, a sua vida foi prolongada ainda durante algum tempo.
13 Seguidamente, assisti ao aparecimento de um Filho de Homem, segundo me pareceu, trazido até ali sobre nuvens desde o céu; aproximou-se do ancião e foi-lhe apresentado. 14 Deram-lhe poder para governar e para que fosse honrado em todas as nações do mundo, pelo que todos os povos da Terra lhe devem obedecer. O seu poder é eterno, nunca mais terá fim; o seu governo nunca será destruído.
15 Eu estava confuso e perturbado com tudo o que tinha visto. 16 Por isso, aproximei-me de um dos que estavam junto ao trono, para lhe perguntar o sentido de todas estas coisas. E explicou-me:
A interpretação do sonho
17 “Estes quatro animais representam quatro reinos[b] que um dia hão de governar a Terra. 18 Mas por fim o povo do Deus altíssimo terá autoridade sobre os governos do mundo para sempre!”
19 Depois perguntei acerca do quarto animal, que não era semelhante aos outros, aquele animal terrível e espantoso, com os seus dentes de ferro e garras de bronze, o animal que despedaçava e devorava as suas vítimas com facilidade, e depois pisava os restos que deixava para trás. 20 Pretendi igualmente saber quanto aos dez chifres e sobre o que era mais pequeno, que apareceu depois e provocou o desaparecimento de três outros, o qual tinha olhos e boca, com a qual dizia coisas arrogantes, e que era mais forte que os outros. 21 Pois eu tinha visto este chifre a fazer guerra contra o povo de Deus e vencê-lo, 22 até à altura em que o ancião de idade avançada veio, abriu o tribunal e reabilitou o seu povo, dando-lhe poderes de governo sobre o mundo.
23 “Este quarto animal”, disse-me, “representa o quarto poder mundial que governará a Terra. Será mais brutal que qualquer dos outros; devorará todo o mundo, destruindo tudo diante de si. 24 Os seus dez chifres são dez reis que aparecerão saídos do seu império; depois outro rei aparecerá, ainda mais violento que os dez outros, e humilhará três deles. 25 Desafiará o Deus altíssimo e consumirá os santos com perseguições, tentando alterar todas as leis, a moral e os costumes. O povo de Deus estará nas suas mãos por três anos e meio.
26 Mas abrir-se-á o tribunal de justiça e retirará todo o poder a este rei corrompido, destruindo-o totalmente. 27 Nessa altura, todas as nações debaixo dos céus e todo o poder será entregue ao povo santo do Deus altíssimo. E o reino de Deus será um reino sem fim e todos os governantes e domínios o adorarão, obedecerão e servirão eternamente.”
28 Assim acabou a visão. Fiquei grandemente perturbado e com o rosto pálido de espanto, mas não disse a ninguém o que via.
A visão de Daniel do carneiro e do bode
8 No terceiro ano do reinado de Belsazar, tive outra visão. 2 Desta vez eu estava em Susã, a capital da província de Elão, e encontrava-me junto ao rio Ulai. 3 Olhando eu em volta, vi um carneiro ali perto do rio que tinha dois chifres muito altos; um destes chifres era mais comprido que o outro; entretanto, o mais longo foi o último a nascer, dos dois. 4 O carneiro marrava em tudo o que encontrava no caminho e ninguém era capaz de o impedir ou de lhe subtrair as vítimas. Fazia o que entendia e engrandeceu-se muito.
5 Estando eu a considerar estas coisas, apareceu de repente um bode vindo do ocidente; aproximava-se de uma forma tal que nem tocava no chão. 6 Este bode, que tinha um chifre no meio dos olhos, correu furiosamente para o carneiro que tinha as duas pontas. 7 Caindo sobre o carneiro partiu-lhe ambas as hastes. Este último ficou sem nenhuma força e o bode abateu-o e pisou-o. Não havia mais salvação para ele. 8 O animal vencedor tornou-se orgulhoso e ficou muito engrandecido. Contudo, quando estava no auge do seu poder, foi-lhe quebrado o único chifre que tinha e no seu lugar apareceram-lhe outros quatro chifres, também de tamanho considerável, apontando em todas as direções.
9 Um destes, crescendo devagar ao princípio, depressa se tornou muito forte e começou a atacar para o sul e para o oriente, fazendo guerra contra a terra gloriosa de Israel. 10 Tornou-se tão poderoso que chegou a atacar os exércitos celestiais. 11 Chegou mesmo a desafiar o seu comandante, lançando por terra algumas das suas estrelas, pisando-as e fazendo cancelar os sacrifícios diários contínuos que se faziam em sua adoração, e profanando o seu santuário. 12 Mas o exército dos santos e o sacrifício diário foi destruído por causa das transgressões; a verdade foi lançada por terra; fez o que lhe agradou e prosperou.
13 Em seguida, ouvi dois dos santos anjos que dialogavam entre si: “Quando será novamente restabelecido o sacrifício contínuo? Quando será castigada a destruição do templo e o povo de Deus tornado de novo triunfante?”
14 “Duas mil e trezentas tardes e manhãs deverão decorrer primeiro!”, respondeu-lhe o outro. “Depois o santuário será purificado!”
Gabriel interpreta a visão
15 Estava eu a tentar compreender o sentido desta visão, quando apareceu uma figura humana diante de mim. 16 E ouvi a voz dum homem chamando do outro lado do rio: “Gabriel, diz a Daniel o significado deste sonho!”
17 Então Gabriel veio para onde eu me encontrava. Mas quando se aproximou de mim fiquei muito perturbado e caí com o rosto em terra. “Homem mortal”, disse-me ele, “tens de perceber que estes acontecimentos que viste figurados nessa visão não terão lugar antes que venha o fim dos tempos.”
18 Depois perdi os sentidos, estando com o rosto em terra, mas ele tocou-me, ergueu-me e ajudou-me a manter-me em pé. 19 “Estou aqui para te dizer o que irá acontecer aquando da vinda dos tempos de ira, porque o que viste pertence ao fim dos tempos. 20 Os dois chifres do carneiro que observaste são os reis da Média e da Pérsia. 21 O bode peludo é a nação grega e o seu longo chifre representa o primeiro rei dessa nação. 22 Quando viste que foi quebrado e substituído por quatro outros mais pequenos, isso significa que o império grego se repartirá em quatro partes, cada uma com seu rei, nenhum deles tão grande como o primeiro.
23 Já no final desses reinados, quando a sua maldade atingir o seu máximo, um outro rei feroz se levantará com grande sagacidade e inteligência. 24 O seu poder será grande e não virá de si próprio. Prosperará para onde quer que se voltar; destruirá todos os que se lhe opuserem, ainda que o façam com poderoso exército; desvastará o santo povo de Deus. 25 Será mestre na arte do engano; muitos serão derrotados, ao serem apanhados desprevenidos, confiados numa falsa segurança. Sem pré-aviso destruí-los-á. Considerar-se-á tanto a si próprio que até será capaz de pretender travar batalha contra o Príncipe dos príncipes. Contudo, ao tentar fazê-lo, selará a sua própria condenação, pois será aniquilado pela mão de Deus, pois nenhum ser humano poderia vencê-lo.
26 Na tua visão ouviste falar nas tardes e manhãs que passarão, antes que os direitos do culto sejam restabelecidos. A visão foi-te explicada e será cumprida. Contudo, guarda-a por agora em segredo, porque ainda falta muito tempo até que se torne realidade.”
27 Eu fiquei exausto e doente por vários dias; mas restabeleci-me e continuei a dar execução aos meus deveres para com o rei. No entanto, fiquei muito impressionado com esse sonho que não entendi bem.
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