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Bible in 90 Days

An intensive Bible reading plan that walks through the entire Bible in 90 days.
Duration: 88 days
Nova Versão Transformadora (NVT)
Version
Neemias 13:15 - Jó 7:21

15 Naqueles dias, vi homens de Judá trabalhando nas prensas de uvas no sábado. Também ajuntavam cereais, que colocavam sobre jumentos, e traziam vinho, uvas, figos e produtos de toda espécie a Jerusalém para vendê-los no sábado. Então os repreendi por venderem seus produtos nesse dia. 16 Alguns homens de Tiro que moravam em Jerusalém traziam peixes e mercadorias de todo tipo. No sábado, vendiam para o povo de Judá, e isso em Jerusalém!

17 Assim, confrontei os nobres de Judá e lhes perguntei: “Por que fazem tamanho mal profanando o sábado? 18 Acaso nossos antepassados não cometeram o mesmo erro, fazendo nosso Deus trazer toda esta desgraça sobre nós e sobre nossa cidade? Agora vocês trazem ainda mais ira contra Israel ao permitir que o sábado seja profanado desse modo!”.

19 Em seguida, ordenei que as portas de Jerusalém fossem fechadas no dia antes do sábado, assim que começasse a escurecer, e só fossem abertas depois que o sábado tivesse terminado. Enviei alguns de meus servos para guardar as portas, a fim de que não entrasse nenhuma mercadoria no sábado. 20 Os comerciantes e vendedores de vários produtos acamparam do lado de fora de Jerusalém uma ou duas vezes, 21 mas falei duramente com eles: “O que fazem aqui, acampados ao redor do muro? Se fizerem isso de novo, mandarei prendê-los!”. E essa foi a última vez que vieram no sábado. 22 Então ordenei que os levitas se purificassem e guardassem as portas, para manter o sábado como um dia sagrado.

Lembra-te também desta boa obra, ó meu Deus! Tem compaixão de mim de acordo com teu grande amor leal!

23 Nessa mesma época, vi que alguns homens de Judá haviam se casado com mulheres de Asdode, de Amom e de Moabe. 24 Além disso, a metade de seus filhos falava a língua de Asdode ou de algum outro povo, mas não sabia falar a língua de Judá. 25 Por isso, confrontei esses homens e invoquei maldições sobre eles. Bati em alguns deles e arranquei seus cabelos. Também os fiz jurar em nome de Deus que não permitiriam que suas filhas se casassem com os filhos dos povos da terra, nem que as filhas deles se casassem com seus filhos ou com eles mesmos.

26 “Não foi exatamente isso que levou Salomão, rei de Israel, a pecar?”, perguntei-lhes. “Não havia nenhum rei igual a ele entre as nações, e Deus o amou e o fez rei sobre todo o Israel. Até mesmo ele, porém, foi levado a pecar por suas esposas estrangeiras. 27 Como puderam ao menos pensar em cometer essa grande maldade e ser infiéis a Deus casando com mulheres estrangeiras?”

28 Um dos filhos de Joiada, filho do sumo sacerdote Eliasibe, havia se casado com uma filha de Sambalate, o horonita, por isso o expulsei de minha presença.

29 Lembra-te deles, ó meu Deus, pois profanaram o sacerdócio e a aliança dos sacerdotes e dos levitas.

30 Assim, eliminei tudo que era estrangeiro e designei tarefas específicas para os sacerdotes e os levitas. 31 Também me certifiquei de que a provisão de lenha para o altar e os primeiros frutos da colheita fossem trazidos nas datas estabelecidas.

Lembra-te disso em meu favor, ó meu Deus.

O banquete do rei

Estes acontecimentos ocorreram nos dias do rei Xerxes,[a] que reinou sobre 127 províncias, desde a Índia até a Etiópia.[b] Do trono real na fortaleza de Susã, Xerxes governava seu império. No terceiro ano de reinado, ofereceu um banquete a todos os seus nobres e oficiais. Convidou todos os oficiais militares da Pérsia e da Média e os príncipes e nobres das províncias. A festa durou 180 dias e foi uma demonstração formidável da grande riqueza do império e da pompa e esplendor de sua majestade.

Terminada a celebração, o rei ofereceu um banquete para todo o povo que estava na fortaleza de Susã, desde os mais importantes até os mais humildes. O banquete durou sete dias e foi realizado no pátio do jardim do palácio real. O pátio estava enfeitado com cortinas brancas de algodão e com tapeçarias azuis, presas com cordas de linho branco e fitas vermelhas a argolas de prata fixadas a colunas de mármore. Havia sofás com armação de ouro e de prata sobre um piso de mosaico de pórfiro, mármore, madrepérola e outras pedras preciosas.

As bebidas eram servidas em taças de ouro de diversos modelos, e havia grande quantidade de vinho real, para mostrar a generosidade do rei. Por ordem do rei, podia-se beber à vontade, pois ele havia instruído os oficiais de seu palácio a servirem quanto vinho cada convidado quisesse.

Na mesma ocasião, a rainha Vasti ofereceu um banquete para as mulheres no palácio do rei Xerxes.

A rainha Vasti é deposta

10 No sétimo dia da festa, quando o rei Xerxes estava muito alegre por causa do vinho, ordenou aos sete eunucos que o serviam — Meumã, Bizta, Harbona, Bigtá, Abagta, Zetar e Carcas — 11 que lhe trouxessem a rainha Vasti, usando a coroa real. Ele queria que os nobres e os demais convidados contemplassem sua beleza, pois era uma mulher muito bonita. 12 Mas, quando transmitiram a ordem do rei à rainha Vasti, ela se recusou a ir. O rei ficou furioso e indignado.

13 Então o rei consultou seus sábios, que entendiam das leis e dos costumes dos persas, e aos quais ele sempre pedia conselhos. 14 Seus nomes eram Carsena, Setar, Admata, Társis, Meres, Marsena e Memucã, sete nobres da Pérsia e da Média. Tinham acesso direto ao rei e ocupavam os cargos mais altos do império.

15 “O que se deve fazer com a rainha Vasti?”, perguntou o rei. “De acordo com a lei, qual é o castigo para uma rainha que se recusa a obedecer às ordens do rei, transmitidas pelos eunucos?”

16 Memucã respondeu ao rei e aos nobres: “A rainha Vasti ofendeu não somente o rei, mas todos os nobres e cidadãos das províncias do império. 17 Mulheres de toda parte começarão a desprezar o marido quando souberem que a rainha Vasti se recusou a comparecer diante do rei. 18 Antes de terminar este dia, as esposas dos nobres do rei em toda a Pérsia e a Média saberão o que a rainha fez e começarão a tratar o marido da mesma forma. Haverá grande desprezo e indignação sem fim.

19 “Portanto, se parecer bem ao rei, sugerimos que publique um decreto real, uma lei dos medos e dos persas que não pode ser revogada. Determinará que a rainha Vasti seja expulsa para sempre da presença do rei Xerxes e que o rei escolha outra rainha mais digna que ela. 20 Quando o decreto for publicado em todo o vasto império do rei, maridos de toda parte, seja qual for a posição social, serão respeitados pela esposa”.

21 O conselho pareceu razoável ao rei e a seus nobres, e ele aceitou a proposta de Memucã. 22 Enviou cartas a todas as partes do império, a cada província, em sua própria escrita e língua, proclamando que todo homem devia ser o chefe de sua própria casa e ter sempre a última palavra.[c]

Ester se torna rainha

Passada a indignação de Xerxes, ele começou a pensar em Vasti, naquilo que ela havia feito e no decreto que ele havia publicado. Então seus conselheiros sugeriram: “Permita que procuremos em todo o império moças belas e virgens para o rei. E que o rei nomeie agentes em cada província para que tragam essas lindas moças ao harém na fortaleza em Susã. Hegai, eunuco do rei e encarregado do harém, providenciará que elas recebam tratamentos de beleza. Depois disso, a moça que mais agradar o rei se tornará rainha em lugar de Vasti”. O rei gostou muito desse conselho e o pôs em prática.

Nesse tempo, havia na fortaleza de Susã um judeu chamado Mardoqueu, filho de Jair. Era da tribo de Benjamim e descendente de Quis e Simei. Sua família[d] estava entre aqueles que, com Joaquim,[e] rei de Judá, tinham sido deportados de Jerusalém para a Babilônia pelo rei Nabucodonosor. Mardoqueu tinha uma prima jovem, muito bonita e atraente, chamada Hadassa, também conhecida como Ester. Quando o pai e a mãe de Ester morreram, Mardoqueu a criou como sua própria filha.

Como resultado do decreto do rei, Ester e muitas outras moças foram trazidas ao palácio real, na fortaleza de Susã, e colocadas sob os cuidados de Hegai, o encarregado do harém. Hegai ficou muito impressionado com a beleza de Ester e a tratou com bondade. Sem demora, providenciou que ela recebesse comida especial e tratamentos de beleza. Também lhe designou sete moças escolhidas do palácio real e a transferiu, com as jovens, para o melhor lugar do harém.

10 Mardoqueu havia instruído Ester a não revelar a ninguém sua nacionalidade nem a origem de sua família. 11 Todos os dias, Mardoqueu caminhava perto do pátio do harém para saber notícias de Ester e descobrir o que estava acontecendo.

12 Antes de ser levada aos aposentos reais, cada moça recebia os doze meses prescritos de tratamentos de beleza: seis meses com óleo de mirra e seis meses com perfumes e cosméticos. 13 Quando chegava sua vez de ir aos aposentos reais, podia escolher do harém as roupas e as joias que quisesse. 14 À tarde, era conduzida aos aposentos reais e, na manhã seguinte, ia para outra parte do harém,[f] onde moravam as mulheres do rei. Ali, ficava sob os cuidados de Saasgaz, eunuco do rei encarregado das concubinas. Ela não voltaria a se encontrar com o rei a menos que ele tivesse gostado muito dela e mandasse chamá-la pelo nome.

15 Ester era filha de Abiail, tio de Mardoqueu. (Mardoqueu havia adotado Ester, sua prima mais nova, como filha.) Quando chegou a vez de Ester se apresentar ao rei, ela aceitou o conselho de Hegai, eunuco encarregado do harém. Não pediu nada além do que ele sugeriu e agradou a todos que a viram.

16 Ester foi levada ao rei Xerxes no palácio real no mês de dezembro,[g] no sétimo ano de seu reinado. 17 O rei gostou mais de Ester que de qualquer outra moça. Agradou-se tanto dela que pôs a coroa real sobre sua cabeça e a declarou rainha em lugar de Vasti. 18 Para comemorar a ocasião, ofereceu a todos os seus nobres e oficiais um grande banquete em homenagem a Ester. Declarou aquele dia feriado em todas as províncias e distribuiu presentes generosos para todos.

19 Mesmo depois que todas as moças haviam sido transferidas para a outra parte do harém e que Mardoqueu tinha se tornado um dos oficiais do palácio,[h] 20 Ester continuou a manter em segredo sua nacionalidade e a origem de sua família. Ainda seguia as instruções de Mardoqueu como havia feito quando vivia sob os seus cuidados.

A lealdade de Mardoqueu ao rei

21 Certo dia, quando Mardoqueu estava de serviço junto à porta do palácio real, dois eunucos do rei, Bigtana[i] e Teres, guardas da porta dos aposentos do rei, se indignaram com Xerxes e conspiraram para matá-lo. 22 Mardoqueu, porém, soube do plano e transmitiu a informação à rainha Ester, que contou ao rei em nome de Mardoqueu. 23 Quando o caso foi investigado e descobriu-se que o relato de Mardoqueu era verdadeiro, os dois homens foram enforcados. Tudo isso está registrado no Livro da História do Reinado do Rei Xerxes.

A conspiração de Hamã contra os judeus

Algum tempo depois, o rei Xerxes promoveu Hamã, filho de Hamedata, o agagita, e lhe deu posição de autoridade sobre todos os nobres do império. Quando Hamã passava, todos os oficiais do palácio real se curvavam diante dele para lhe demonstrar respeito, pois o rei assim havia ordenado. Mardoqueu porém, não se curvava diante dele para lhe demonstrar respeito.

Então os oficiais do palácio real perguntaram a Mardoqueu: “Por que você desobedece à ordem do rei?”. Todos os dias lhe diziam isso, mas, ainda assim, ele não dava ouvidos. Então contaram tudo a Hamã, para ver se ele iria tolerar a conduta de Mardoqueu, pois Mardoqueu lhes tinha dito que era judeu.

Quando Hamã viu que Mardoqueu não se curvava para lhe demonstrar respeito, ficou furioso. Foi informado da nacionalidade de Mardoqueu e decidiu que não bastava matar somente a ele. Em vez disso, procurou um modo de destruir todos os judeus, o povo de Mardoqueu, do império de Xerxes.

Em abril,[j] no décimo segundo ano do reinado de Xerxes, foram lançadas sortes (chamadas purim) na presença de Hamã, a fim de determinar o melhor dia e mês para executar o plano. A data sorteada foi 7 de março, quase um ano depois.[k]

Então Hamã foi ao rei Xerxes e disse: “Há certo povo espalhado por todas as províncias de seu império que se mantém separado dos demais. Eles têm leis diferentes das leis dos outros povos e não obedecem às leis do rei. Portanto, não é do interesse do rei deixar que vivam. Se parecer bem ao rei, publique um decreto para que eles sejam destruídos, e eu darei 350 toneladas[l] de prata aos administradores do governo para serem depositadas nos tesouros do rei”.

10 O rei concordou e, para confirmar sua decisão, tirou do dedo o anel com o selo real e o entregou a Hamã, filho de Hamedata, o agagita, inimigo dos judeus. 11 O rei disse: “A prata e o povo são seus; faça com eles o que lhe parecer melhor”.

12 Assim, no dia 17 de abril,[m] os secretários do rei foram convocados, e um decreto foi redigido exatamente da forma como Hamã ditou. Em seguida, foi enviado aos mais altos oficiais do rei, aos governadores das respectivas províncias e aos nobres de cada província, em sua própria escrita e língua. O decreto foi redigido em nome do rei Xerxes e selado com seu anel. 13 As cartas foram enviadas por mensageiros a todas as províncias do império, com ordens para que todos os judeus — jovens e idosos, mulheres e crianças — fossem destruídos, mortos e aniquilados num único dia. A data marcada para que isso acontecesse era 7 de março do ano seguinte.[n] Os bens dos judeus seriam entregues a quem os matasse.

14 Uma cópia do decreto devia ser publicada como lei em cada província e proclamada a todos os povos, a fim de que estivessem preparados para cumprir seu dever na data marcada. 15 Por ordem do rei, o decreto foi rapidamente enviado por mensageiros e também foi proclamado na fortaleza de Susã. Então o rei e Hamã se sentaram para beber, enquanto a confusão se espalhava pela cidade de Susã.

Mardoqueu pede ajuda a Ester

Quando Mardoqueu soube de tudo que havia acontecido, rasgou suas roupas, vestiu-se de pano de saco, cobriu-se de cinzas e saiu pela cidade, chorando alto e amargamente. Foi até a porta do palácio, mas ninguém que estivesse usando roupas de luto tinha permissão para entrar. Quando a notícia do decreto chegou a todas as províncias, houve grande pranto entre os judeus. Jejuaram, choraram e lamentaram, e muitos se deitaram em pano de saco e em cinzas.

Quando as criadas de Ester e os eunucos vieram e lhe contaram sobre Mardoqueu, ela ficou muito angustiada. Enviou-lhe roupas para vestir em lugar do pano de saco, mas ele não aceitou. Então Ester mandou chamar Hataque, um dos eunucos do rei que havia sido nomeado para servi-la. Ordenou que ele fosse até Mardoqueu e descobrisse o que o perturbava e por que ele estava de luto. Hataque foi até Mardoqueu na praça da cidade, em frente à porta do palácio.

Mardoqueu lhe contou tudo e lhe informou a quantidade exata de prata que Hamã havia prometido pagar ao tesouro real pela destruição dos judeus. Mardoqueu entregou a Hataque uma cópia do decreto publicado em Susã que ordenava o extermínio de todos os judeus. Pediu a Hataque que mostrasse o decreto a Ester e lhe explicasse a situação. Também pediu a Hataque que a orientasse a ir falar com o rei para implorar por misericórdia e interceder em favor de seu povo. Hataque voltou a Ester com o recado de Mardoqueu.

10 Então Ester mandou Hataque dizer a Mardoqueu: 11 “Todos os oficiais do rei, e até mesmo o povo das províncias, sabem que qualquer pessoa que se apresenta diante do rei no pátio interno sem ter sido convidada está condenada a morrer, a menos que o rei lhe estenda seu cetro de ouro. Além do mais, há trinta dias o rei não me chama à sua presença”. 12 E o recado de Ester foi transmitido a Mardoqueu.

13 Mardoqueu enviou esta resposta a Ester: “Não pense que por estar no palácio você escapará quando todos os outros judeus forem mortos. 14 Se ficar calada num momento como este, alívio e livramento virão de outra parte para os judeus, mas você e seus parentes morrerão. Quem sabe não foi justamente para uma ocasião como esta que você chegou à posição de rainha?”.

15 Então Ester enviou esta resposta a Mardoqueu: 16 “Vá, reúna todos os judeus de Susã e jejuem por mim. Não comam nem bebam durante três dias e três noites. Minhas criadas e eu faremos o mesmo. Depois, irei à presença do rei, mesmo que seja contra a lei. Se eu tiver de morrer, morrerei”. 17 Mardoqueu foi e fez tudo conforme as instruções de Ester.

O pedido de Ester ao rei

No terceiro dia do jejum, Ester vestiu seus trajes reais e entrou no pátio interno do palácio, em frente do salão do rei. O rei estava sentado no trono, voltado para a entrada. Quando viu a rainha Ester ali no pátio interno, ele a recebeu de bom grado e lhe estendeu o cetro de ouro. Ester se aproximou e tocou a ponta do cetro.

“O que você deseja, rainha Ester?”, perguntou o rei. “Qual é seu pedido? Eu atenderei, mesmo que peça metade do reino!”

Ester respondeu: “Se lhe parecer bem, venha hoje com Hamã a um banquete que preparei para o rei”.

O rei se voltou para seus servos e disse: “Digam a Hamã que venha depressa para um banquete, como Ester pediu”. Então o rei e Hamã foram ao banquete que Ester havia preparado.

Enquanto bebiam vinho, o rei disse a Ester: “Agora diga-me o que você deseja. Qual é seu pedido? Eu atenderei, mesmo que peça metade do reino!”.

Ester respondeu: “Este é meu pedido e meu desejo: Se conto com o favor do rei e se lhe parecer bem atender a meu pedido, venha amanhã com Hamã ao banquete que lhes prepararei. Então explicarei do que se trata”.

O plano de Hamã para matar Mardoqueu

Hamã saiu do banquete muito feliz e animado. Contudo, ficou furioso quando viu que Mardoqueu, sentado à porta do palácio, não se levantou nem demonstrou nervosismo em sua presença. 10 Hamã, porém, se conteve e foi para casa.

Então reuniu seus amigos e sua esposa, Zeres, 11 e gabou-se de sua grande riqueza e de seus muitos filhos. Vangloriou-se das honras que o rei lhe havia concedido e de como havia sido promovido acima de todos os outros nobres e oficiais.

12 Disse também: “Se isso não bastasse, a rainha Ester convidou somente o rei e a mim para um banquete que ela preparou! E ainda me convidou para outro banquete com ela e com o rei amanhã!”. 13 Depois, acrescentou: “Nada disso, porém, me satisfará enquanto eu vir o judeu Mardoqueu sentado à porta do palácio”.

14 Então Zeres, esposa de Hamã, e todos os amigos dele sugeriram: “Mande fazer uma forca de mais de vinte metros[o] e, pela manhã, peça ao rei que Mardoqueu seja enforcado nela. Depois disso, você poderá ir alegremente ao banquete com o rei”. A sugestão agradou Hamã, e ele mandou fazer a forca.

O rei honra Mardoqueu

Naquela noite, o rei não conseguia dormir; então mandou que trouxessem o livro da história de seu reinado e o lessem para ele. Nesses registros ele descobriu que Mardoqueu havia denunciado Bigtana e Teres, os dois eunucos que guardavam a porta dos aposentos reais e que haviam conspirado para matar o rei Xerxes.

“Que recompensa ou reconhecimento Mardoqueu recebeu por isso?”, quis saber o rei.

Seus servos responderam: “Não se fez nada por ele”.

“Quem está no pátio?”, perguntou o rei. Hamã tinha acabado de entrar no pátio externo do palácio para pedir ao rei que Mardoqueu fosse executado na forca que ele havia preparado.

Os servos responderam: “É Hamã que está no pátio”.

“Digam a ele que entre”, ordenou o rei. Hamã entrou, e o rei lhe perguntou: “O que devo fazer para honrar um homem que muito me agrada?”.

Hamã pensou: “A quem o rei desejaria honrar senão a mim?”. Por isso, respondeu: “Se o rei deseja honrar alguém, mande trazer um dos mantos que o rei costuma usar, e um cavalo no qual o rei costuma montar, e que tenha o emblema real na cabeça. Ordene que o manto e o cavalo sejam entregues a um dos mais nobres oficiais do rei e que ele ponha o manto sobre o homem que o rei deseja honrar e o conduza pela praça da cidade sobre o cavalo do rei. Mande que o oficial proclame em alta voz: ‘Assim o rei faz a quem ele deseja honrar!’”.

10 “Excelente!”, disse o rei a Hamã. “Vá depressa pegar meu manto e meu cavalo e faça ao judeu Mardoqueu, que está sentado à porta do palácio, exatamente o que você sugeriu. Não se esqueça de nenhum detalhe!”

11 Então Hamã pegou o manto e o cavalo do rei, vestiu Mardoqueu com o manto e o conduziu sobre o cavalo pela praça da cidade, proclamando em alta voz: “Assim o rei faz a quem ele deseja honrar!”. 12 Depois disso, Mardoqueu voltou para a porta do palácio, mas Hamã correu para casa, abatido e humilhado.

13 Quando Hamã contou a Zeres, sua esposa, e a todos os seus amigos o que havia acontecido, seus conselheiros e sua esposa disseram: “Visto que Mardoqueu, diante de quem você foi humilhado, é judeu de nascimento, seus planos contra ele jamais serão bem-sucedidos. Você ficará arruinado se continuar a se opor a ele”.

14 Enquanto ainda falavam, os eunucos do rei chegaram e, sem demora, levaram Hamã ao banquete que Ester havia preparado.

O rei manda executar Hamã

O rei e Hamã foram ao banquete da rainha Ester. Mais uma vez, enquanto bebiam vinho, o rei perguntou a Ester: “Diga-me o que deseja, rainha Ester. Qual é seu pedido? Eu atenderei, mesmo que peça metade do reino!”.

A rainha Ester respondeu: “Se conto com o favor do rei, e se lhe parecer bem atender meu pedido, poupe minha vida e a vida de meu povo. Pois eu e meu povo fomos vendidos para sermos destruídos, mortos e aniquilados. Se fosse apenas o caso de termos sido vendidos como escravos, eu teria permanecido calada, pois não teria cabimento perturbar o rei com um assunto de tão pouca importância”.

“Quem faria uma coisa dessas?”, perguntou o rei Xerxes. “Onde está o homem que teria a audácia de fazer isso?”

Ester respondeu: “Nosso inimigo e adversário é Hamã, este homem perverso”. Hamã ficou apavorado diante do rei e da rainha. Furioso, o rei se levantou e saiu para o jardim do palácio.

Hamã, porém, ficou ali, implorando por sua vida à rainha Ester, pois sabia que o rei certamente o condenaria à morte. Em desespero, atirou-se sobre o sofá onde a rainha Ester estava reclinada e, nesse exato momento, o rei voltou do jardim do palácio.

O rei exclamou: “Ele se atreve até a violentar a rainha aqui no palácio, diante de meus próprios olhos?”. E, assim que o rei falou, seus servos cobriram o rosto de Hamã.

Harbona, um dos eunucos do rei, disse: “Hamã construiu uma forca de mais de vinte metros[p] no pátio da casa dele. Pretendia usá-la para enforcar Mardoqueu, o homem que salvou o rei de ser assassinado”.

“Usem-na para enforcar Hamã!”, ordenou o rei. 10 Assim, executaram Hamã na forca que ele havia construído para Mardoqueu; e a ira do rei se acalmou.

Um decreto em favor dos judeus

Naquele mesmo dia, o rei Xerxes entregou à rainha Ester os bens de Hamã, inimigo dos judeus. Então Mardoqueu foi trazido à presença do rei, pois Ester havia contado ao rei que ele era seu parente. O rei tirou do dedo o anel com o selo real, que ele havia tomado de volta de Hamã, e o entregou a Mardoqueu. Assim, Ester o nomeou administrador dos bens de Hamã.

Então Ester voltou a apresentar-se ao rei e, caindo a seus pés, suplicou com lágrimas que ele cancelasse o plano perverso de Hamã, o agagita, contra os judeus. Mais uma vez, o rei estendeu o cetro de ouro para Ester. Ela se levantou e ficou em pé diante dele.

Disse ela: “Se parecer bem ao rei, se conto com seu favor, se o rei considerar correto e se o tenho agradado, que seja publicado um decreto anulando as ordens de Hamã, filho de Hamedata, o agagita, para aniquilar os judeus em todas as províncias do rei. Pois como eu suportaria ver meu povo passar por tal calamidade? Acaso poderia assistir à destruição de minha família?”.

O rei Xerxes disse à rainha Ester e ao judeu Mardoqueu: “Entreguei a Ester os bens de Hamã, e ele foi enforcado porque tentou destruir os judeus. Agora, enviem aos judeus um decreto em nome do rei, dizendo o que vocês acharem melhor, e selem-no com o anel do rei. Lembrem-se, porém, de que o que já foi escrito em nome do rei e selado com seu anel não pode ser revogado”.

Assim, no dia 25 de junho,[q] os secretários do rei foram convocados, e um decreto foi redigido exatamente da forma como Mardoqueu ditou. O decreto foi enviado aos judeus, aos mais altos oficiais do rei, aos governadores e aos nobres de todas as 127 províncias, desde a Índia até a Etiópia.[r] As ordens foram redigidas na escrita e na língua de cada povo do império, incluindo as dos judeus. 10 Mardoqueu escreveu o decreto em nome do rei Xerxes e o selou com o anel do rei. Enviou as cartas por mensageiros montados em cavalos velozes criados nas estrebarias do rei.

11 O decreto do rei concedia aos judeus de todas as cidades autoridade para se reunirem e defenderem a própria vida. Permitia que destruíssem, matassem e aniquilassem qualquer exército, de qualquer nacionalidade ou província, que os atacasse ou a seus filhos e esposas. Também permitia que tomassem os bens de seus inimigos. 12 A data marcada para que isso acontecesse em todas as províncias do rei Xerxes era 7 de março do ano seguinte.[s]

13 Uma cópia do decreto devia ser publicada como lei em cada província e proclamada a todos os povos, a fim de que os judeus estivessem preparados para se vingar de seus inimigos na data marcada. 14 Por ordem do rei, os mensageiros saíram a toda pressa, montados em cavalos velozes criados nas estrebarias do rei. O decreto também foi proclamado na fortaleza de Susã.

15 Mardoqueu saiu da presença do rei vestido com trajes reais em azul e branco, uma grande coroa de ouro e um manto de linho fino e tecido vermelho; e o povo de Susã comemorou alegremente o novo decreto. 16 Os judeus se encheram de felicidade e alegria e foram honrados em toda parte. 17 Em cada província e cidade, em cada lugar aonde o decreto do rei chegava, os judeus se alegravam muito e comemoravam com grandes banquetes, festas e feriados. Muitos que pertenciam a outros povos do império se tornaram judeus, porque temiam o que os judeus pudessem fazer com eles.

A vitória dos judeus

Assim, no dia 7 de março,[t] os dois decretos do rei entraram em vigor. Nesse dia, os inimigos dos judeus esperavam dominá-los, mas aconteceu o contrário; os judeus dominaram seus inimigos. Reuniram-se em suas cidades em todas as províncias do rei Xerxes para atacar qualquer um que procurasse lhes fazer mal. Ninguém conseguiu resistir-lhes, pois todos tinham muito medo deles. E todos os nobres das províncias, os mais altos oficiais, os governadores e os oficiais do rei ajudaram os judeus, pois temiam Mardoqueu. Ele havia sido promovido no palácio do rei e, à medida que se tornava mais poderoso, sua fama se espalhava por todas as províncias.

Portanto, na data marcada, os judeus feriram seus inimigos à espada. Mataram e aniquilaram seus inimigos e fizeram o que queriam com aqueles que os odiavam. Só na fortaleza de Susã, os judeus atacaram e mataram quinhentos homens. Também mataram Parsandata, Dalfom, Aspata, Porata, Adalia, Aridata, Parmasta, Arisai, Aridai e Vaizata, 10 os dez filhos de Hamã, filho de Hamedata, inimigo dos judeus. No entanto, não tomaram nenhum despojo.

11 Naquele mesmo dia, quando o rei foi informado do número de pessoas mortas na fortaleza de Susã, 12 mandou chamar a rainha Ester e disse: “Só na fortaleza de Susã, os judeus mataram quinhentos homens, além dos filhos de Hamã. Se fizeram isso aqui, o que terão feito nas províncias? E agora, o que mais deseja? Seu pedido será atendido; diga-me e será feito”.

13 Ester respondeu: “Se parecer bem ao rei, dê permissão aos judeus de Susã para que façam novamente amanhã o mesmo que fizeram hoje; e que os corpos dos dez filhos de Hamã sejam pendurados na forca”.

14 O rei concordou e publicou o decreto em Susã, e os corpos dos dez filhos de Hamã foram pendurados na forca. 15 Então, no dia 8 de março,[u] os judeus de Susã se reuniram e mataram trezentos homens. Mais uma vez, porém, não tomaram nenhum despojo.

16 Enquanto isso, os outros judeus em todas as províncias do rei haviam se reunido para defender a própria vida. Livraram-se de seus inimigos ao matar 75 mil dos que odiavam os judeus. No entanto, não tomaram nenhum despojo. 17 Isso foi feito em todas as províncias no dia 7 de março, e no dia 8[v] descansaram e comemoraram sua vitória com um dia de festa e alegria. 18 (Os judeus de Susã mataram seus inimigos nos dias 7 e 8 de março e descansaram no dia 9,[w] fazendo dele um dia de festa e alegria.) 19 Por isso, os judeus que vivem em povoados nas regiões rurais celebram a festa anual nesse dia determinado,[x] data em que se alegram, festejam e presenteiam uns aos outros com alimentos.

A Festa de Purim

20 Mardoqueu registrou esses acontecimentos e enviou cartas aos judeus em todas as províncias do rei Xerxes, tanto aos de perto como aos de longe, 21 instruindo-os a celebrar uma festa anual nesses dois dias.[y] 22 Ordenou que celebrassem com festas e alegria, presenteando uns aos outros com alimentos e distribuindo presentes aos pobres. Assim, recordariam a ocasião em que os judeus se livraram de seus inimigos e em que sua tristeza foi transformada em alegria, e seu lamento, em dia de festa.

23 Os judeus aceitaram a orientação de Mardoqueu e adotaram esse costume anual. 24 Hamã, filho de Hamedata, o agagita, inimigo dos judeus, havia tramado destruí-los numa data determinada pelo lançamento de sortes (chamadas purim). 25 Mas, quando Ester foi à presença do rei, ele publicou um decreto que fez o plano perverso de Hamã se voltar contra ele, e Hamã e seus filhos foram pendurados numa forca. 26 Por isso, essa comemoração se chama Purim, palavra que se usava antigamente para “lançar sortes”.[z]

Assim, por causa da carta de Mardoqueu e daquilo que lhes havia acontecido, 27 os judeus em todo o reino concordaram em dar início a essa tradição e transmiti-la a seus descendentes e a todos que se tornassem judeus. Declararam que não deixariam de celebrar anualmente esses dois dias na data determinada. 28 Esses dias seriam lembrados e comemorados de geração em geração, por todas as famílias, em todas as províncias e cidades do império. A Festa de Purim jamais deixaria de ser celebrada pelos judeus, nem a lembrança do que havia acontecido se apagaria entre seus descendentes.

29 Então a rainha Ester, filha de Abiail, e o judeu Mardoqueu escreveram outra carta com toda a autoridade para confirmar a carta de Mardoqueu e estabelecer a Festa de Purim. 30 Enviaram cartas a todos os judeus das 127 províncias do império de Xerxes, desejando-lhes paz e segurança. 31 Essas cartas estabeleciam a Festa de Purim, uma celebração anual desses dias na data determinada, conforme decretado tanto pelo judeu Mardoqueu como pela rainha Ester. O povo resolveu celebrar essa festa, assim como haviam estabelecido para si e seus descendentes os tempos de jejum e de lamentação. 32 Assim, o decreto de Ester confirmou as orientações para a Festa de Purim, e tudo foi escrito nos registros.

A grandeza de Xerxes e de Mardoqueu

10 O rei Xerxes impôs tributos a todo o seu império, incluindo as distantes regiões do litoral. Suas grandes realizações e o relato completo da grandeza de Mardoqueu, a quem o rei havia promovido, estão registrados no Livro da História dos Reis da Média e da Pérsia. O judeu Mardoqueu ocupou o cargo mais alto do reino, abaixo apenas do próprio rei Xerxes. Era muito importante entre os judeus, que o tinham em alta consideração, pois ele continuou a trabalhar para o bem de seu povo e a buscar o bem-estar de todos os seus descendentes.

Prólogo

Havia um homem chamado Jó que vivia na terra de Uz. Ele era íntegro e correto, temia a Deus e se mantinha afastado do mal. Tinha sete filhos e três filhas. Era dono de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas. Também tinha muitos servos. Na verdade, era o homem mais rico de toda aquela região.

Os filhos de Jó se revezavam em preparar banquetes em suas casas e convidavam suas três irmãs para celebrar com eles. Quando terminavam esses dias de festas, Jó mandava chamar seus filhos, a fim de purificá-los. Levantava-se de manhã bem cedo e oferecia um holocausto em favor de cada um deles, pois pensava: “Pode ser que meus filhos tenham pecado e amaldiçoado a Deus em seu coração”. Essa era a prática habitual de Jó.

A primeira provação de Jó

Certo dia, os anjos[aa] vieram à presença do Senhor, e Satanás, o acusador,[ab] veio com eles. “De onde você vem?”, perguntou o Senhor.

Satanás respondeu: “Estive rodeando a terra, observando o que nela acontece”.

Então o Senhor perguntou: “Você reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele. É homem íntegro e correto, teme a Deus e se mantém afastado do mal”.

Satanás respondeu: “É verdade, mas Jó tem bons motivos para temer a Deus. 10 Tu puseste um muro de proteção ao redor dele, de sua família e de seus bens e o abençoaste em tudo que ele faz. Vê como ele é rico! 11 Estende tua mão e toma tudo que ele tem, e certamente ele te amaldiçoará na tua face!”.

12 “Pois bem, você pode prová-lo”, disse o Senhor. “Faça o que quiser com tudo que ele possui, mas não lhe cause nenhum dano físico.” Então Satanás saiu da presença do Senhor.

13 Certo dia, quando os filhos e as filhas de Jó estavam num banquete na casa do irmão mais velho, 14 chegou à casa de Jó um mensageiro com esta notícia: “Seus bois estavam arando, e os jumentos, pastando perto deles, 15 quando os sabeus nos atacaram. Roubaram todos os animais e mataram todos os empregados. Só eu escapei para lhe contar”.

16 Enquanto ele falava, outro mensageiro chegou com esta notícia: “O fogo de Deus caiu do céu e queimou suas ovelhas e todos os seus pastores. Só eu escapei para lhe contar”.

17 Enquanto ele falava, outro mensageiro chegou com esta notícia: “Três bandos de saqueadores caldeus roubaram seus camelos e mataram seus servos. Só eu escapei para lhe contar”.

18 Enquanto ele falava, ainda outro mensageiro chegou com esta notícia: “Seus filhos e suas filhas estavam num banquete na casa do irmão mais velho. 19 De repente, veio do deserto um vendaval terrível e atingiu a casa de todos os lados. A casa desabou, e todos os seus filhos morreram. Só eu escapei para lhe contar”.

20 Então Jó se levantou e rasgou seu manto. Depois, raspou a cabeça, prostrou-se com o rosto no chão em adoração 21 e disse:

“Saí nu do ventre de minha mãe,
e estarei nu quando partir.
O Senhor me deu o que eu tinha,
e o Senhor o tomou.
Louvado seja o nome do Senhor!”.

22 Em tudo isso, Jó não pecou nem culpou a Deus.

A segunda provação de Jó

Certo dia, os anjos[ac] vieram outra vez à presença do Senhor, e Satanás, o acusador,[ad] veio com eles. “De onde você vem?”, perguntou o Senhor.

Satanás respondeu: “Estive rodeando a terra, observando o que nela acontece”.

Então o Senhor perguntou: “Você reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele. É homem íntegro e correto, teme a Deus e se mantém afastado do mal. E não perdeu sua integridade, apesar de você me ter instigado a prejudicá-lo sem motivo”.

Satanás respondeu: “Pele por pele! Um homem dará tudo que tem para salvar a própria vida. Estende tua mão e tira a saúde dele, e certamente ele te amaldiçoará na tua face!”.

“Pois bem”, disse o Senhor. “Faça o que quiser com ele, mas poupe-lhe a vida.” Então Satanás saiu da presença do Senhor e causou em Jó feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça.

Jó, sentado em meio a cinzas, raspava a pele com um caco de cerâmica. Sua esposa lhe disse: “Você ainda tenta manter sua integridade? Amaldiçoe a Deus e morra!”.

10 Jó respondeu: “Você fala como uma mulher insensata. Aceitaremos da mão de Deus apenas as coisas boas e nunca o mal?”. Em tudo isso, Jó não pecou com seus lábios.

Os três amigos de Jó compartilham de sua angústia

11 Quando três amigos de Jó souberam das tragédias que o haviam atingido, cada um saiu de onde vivia e os três foram juntos consolá-lo e animá-lo. Seus nomes eram Elifaz, de Temã, Bildade, de Suá, e Zofar, de Naamá. 12 Quando viram Jó de longe, mal o reconheceram. Choraram alto, rasgaram seus mantos e jogaram terra ao ar, sobre a cabeça. 13 Depois, sentaram-se no chão com ele durante sete dias e sete noites. Não disseram nada, pois viram que o sofrimento de Jó era grande demais.

O primeiro discurso de Jó

Por fim, Jó falou e amaldiçoou o dia de seu nascimento. Disse ele:

“Apagado seja o dia em que nasci
e a noite em que fui concebido.
Transforme-se esse dia em escuridão;
Deus, lá do alto, o ignore,
e luz nenhuma brilhe sobre ele.
Domine esse dia a escuridão absoluta;
uma nuvem negra o cubra,
e densa escuridão o encha de terror.
Apodere-se dessa noite a escuridão;
nunca mais seja contada entre os dias do ano,
nunca mais seja incluída entre os meses.
Sim, estéril seja essa noite,
desprovida de toda a alegria.
Amaldiçoem esse dia os que vivem a amaldiçoar,
aqueles que podem despertar o Leviatã.[ae]
Escureçam-se suas estrelas matutinas;
espere o dia pela luz, mas em vão,
e jamais veja a luz do amanhecer.
10 Amaldiçoado seja esse dia
por não fechar o ventre de minha mãe,
por permitir que eu nascesse,
para presenciar todo este sofrimento.

11 “Por que eu não nasci morto?
Por que não morri ao sair do ventre?
12 Por que me deitaram no colo de minha mãe?
Por que ela me amamentou no seio?
13 Se eu tivesse morrido ao nascer, agora estaria em paz;
sim, dormiria e repousaria.
14 Descansaria com os reis da terra e seus conselheiros,
cujos edifícios agora estão em ruínas.
15 Descansaria com os príncipes, ricos em ouro,
cujos palácios eram cheios de prata.
16 Por que não me sepultaram como uma criança que nasceu morta,
como um bebê que nunca viu a luz?
17 Pois na morte os perversos já não causam problemas,
e os cansados repousam.
18 Até mesmo os cativos encontram sossego nela,
onde não há capatazes para ameaçá-los.
19 Os ricos e os pobres estão ali,
e o escravo se vê livre de seu senhor.

20 “Por que conceder luz aos miseráveis
e vida aos amargurados?
21 Anseiam pela morte, e ela não vem;
cavam à procura dela mais que de tesouros ocultos.
22 Enchem-se de alegria quando enfim morrem
e exultam quando chegam ao túmulo.
23 Por que conceder luz aos que não têm futuro,
aos que Deus cercou de todos os lados?
24 De tanto gemer, não consigo comer;
meus gritos de dor se derramam como água.
25 O que sempre temi veio sobre mim,
o que tanto receava me aconteceu.
26 Não tenho paz, nem sossego;
não tenho descanso, só aflição”.

A primeira resposta de Elifaz a Jó

Então Elifaz, de Temã, respondeu a Jó:

“Você terá paciência e me permitirá dizer algo?
Afinal, quem poderia permanecer calado?
Você já deu ânimo a muita gente
e deu força aos fracos.
Suas palavras sustentaram os que tropeçavam,
e você deu apoio aos vacilantes.
Mas agora, quando vem a aflição, você desanima;
quando é atingido por ela, entra em pânico.
Seu temor a Deus não lhe dá confiança?
Sua vida íntegra não lhe traz esperança?
“Pense bem! Acaso os inocentes morrem?
Quando os justos foram destruídos?
Pelo que tenho observado, os que cultivam a maldade
e semeiam a opressão, isso também é o que colhem.
Um sopro de Deus os destrói;
desaparecem com uma rajada de sua ira.
10 O leão ruge e seu filhote rosna,
mas os dentes dos leões jovens são quebrados.
11 O leão feroz morre de fome porque não há presa,
e os filhotes da leoa se dispersam.

12 “Esta verdade me foi revelada em segredo,
como que sussurrada em meu ouvido.
13 Ela veio à noite, numa visão perturbadora,
quando todos estão em sono profundo.
14 O medo e o terror se apoderaram de mim
e fizeram estremecer meus ossos.
15 Um espírito[af] passou diante de meu rosto,
e os pelos de meu corpo se arrepiaram.[ag]
16 O espírito parou, mas não pude ver sua forma;
um vulto estava diante de meus olhos.
No silêncio, ouvi uma voz dizer:
17 ‘Pode algum mortal ser inocente perante Deus?
Pode o homem ser puro diante do Criador?’.

18 “Se Deus não confia nos próprios anjos
e acusa seus mensageiros de insensatez,
19 quanto menos confiará em pessoas feitas de barro!
Vêm do pó e são facilmente destruídas, como traças.
20 Estão vivas pela manhã e mortas ao entardecer;
desaparecem para sempre, sem deixar vestígio.
21 As cordas de sua tenda são arrancadas e a tenda desaba,
e na ignorância morrem.”

Continuação da resposta de Elifaz

“Grite por socorro, mas alguém responderá?

Qual dos anjos[ah] o ajudará?
Por certo, o ressentimento destrói o insensato,
e a inveja mata o tolo.
Observei que os insensatos têm sucesso por um tempo,
mas desgraça repentina vem sobre eles.
Seus filhos perdem toda e qualquer segurança;
são oprimidos no tribunal, e não há quem os defenda.
Os famintos devoram sua colheita,
mesmo quando protegida por espinheiros,[ai]
e os sedentos anseiam por sua riqueza.[aj]
Embora o mal não surja do solo,
nem as dificuldades brotem da terra,
o ser humano nasce para enfrentar aflições,
tão certo como as faíscas do fogo voam para o alto.

“Se eu fosse você, buscaria a Deus
e lhe apresentaria minha causa.
Ele faz grandes coisas, maravilhosas demais para entender,
e realiza milagres incontáveis.
10 Dá chuva à terra
e água aos campos.
11 Exalta os humildes
e protege os que sofrem.
12 Frustra os planos dos maliciosos,
para que as obras de suas mãos fracassem.
13 Apanha os sábios em sua própria astúcia
e frustra as intrigas dos ardilosos.
14 Ficam na escuridão em pleno dia
e tateiam ao meio-dia como se fosse noite.
15 Ele salva os pobres das ofensas dos fortes
e os livra das garras dos poderosos.
16 Por fim, os desamparados têm esperança,
e a boca dos perversos é fechada.

17 “Mas como são felizes os que Deus corrige!
Não despreze, portanto, a disciplina do Todo-poderoso.
18 Pois ele fere, mas enfaixa a ferida;
bate, mas suas mãos curam.
19 Ele o livrará de seis desgraças,
e até mesmo na sétima o guardará do mal.
20 Ele o livrará da morte no tempo de fome
e do poder da espada no tempo de guerra.
21 Você estará protegido das calúnias
e não terá medo quando vier a destruição.
22 Rirá da destruição e da fome,
e animais selvagens não o assustarão.
23 Fará um pacto com as pedras do campo,
e os animais selvagens estarão em paz com você.
24 Saberá que seu lar está seguro;
ao contar seus bens, de nada achará falta.
25 Terá muitos filhos,
tantos descendentes como o capim no pasto.
26 Em boa velhice irá para a sepultura,
como um feixe de cereal colhido no tempo certo.

27 “Observamos a vida e vimos que tudo isso é verdade;
ouça meu conselho e aplique-o à sua vida”.

O segundo discurso de Jó: resposta a Elifaz

Então Jó falou novamente:

“Se fosse possível pesar minha aflição
e pôr numa balança meu sofrimento,
pesariam mais que toda a areia do mar;
por isso falei de modo impulsivo.
Pois o Todo-poderoso me derrubou com suas flechas,
e minha alma bebe o veneno delas;
os terrores de Deus se alinham contra mim.
Os jumentos selvagens não zurram ao não encontrar capim?
Os bois não mugem quando não têm alimento?
As pessoas não se queixam quando falta sal na comida?
Alguém gosta da clara de ovo[ak], que não tem sabor?
Perco o apetite só de olhar para ela;
tenho enjoo só de pensar em comê-la!

“Quem dera meu pedido fosse atendido,
e Deus concedesse meu desejo.
Quem dera ele me esmagasse,
estendesse a mão e acabasse comigo.
10 Ao menos tenho este consolo e alegria:
apesar da dor, não neguei as palavras do Santo.
11 Contudo, faltam-me forças para prosseguir;
não vejo motivo para viver.
12 Acaso tenho a força de uma pedra?
Meu corpo é feito de bronze?
13 Não! Estou completamente desamparado,
sem chance alguma de sucesso.

14 “É preciso ter compaixão de um amigo abatido,
mas vocês me acusam sem nenhum temor do Todo-poderoso.[al]
15 Meus irmãos, vocês se mostraram indignos de confiança,
como um riacho intermitente que transborda sobre as margens,
16 quando fica turvo por causa do gelo,
e a neve sobre ele se amontoa.
17 Mas, chegado o tempo de seca, a água desaparece,
e o riacho some no calor.
18 As caravanas saem de suas rotas,
mas não há o que beber, e morrem ali.
19 As caravanas de Temá procuram essa água,
e os viajantes de Sabá esperam encontrá-la.
20 Contam com ela, mas se decepcionam;
quando chegam, suas esperanças são frustradas.
21 Da mesma forma, vocês não me ajudaram;
viram minha desgraça e ficaram com medo.
22 Mas, por quê? Alguma vez lhes pedi presentes?
Supliquei que me dessem algo seu?
23 Pedi que me livrassem de meus inimigos
ou que me resgatassem de meus opressores?
24 Ensinem-me, e eu me calarei;
mostrem-me onde errei.
25 Palavras honestas são dolorosas,
mas de que servem suas críticas?
26 Consideram suas palavras convincentes,
enquanto ignoram meu clamor de desespero?
27 Seriam capazes de apostar um órfão num jogo de azar;
sim, venderiam até mesmo um amigo.
28 Olhem para mim!
Acaso eu mentiria para vocês?
29 Não pressuponham que sou culpado,
pois nada fiz de errado.
30 Pensam que sou mentiroso?
Acaso não sei mais distinguir entre bem e mal?”

“Acaso a vida na terra não é uma luta?

Nossos dias são como os de um trabalhador braçal,
como o servo que anseia pela sombra,
como o empregado à espera do pagamento.
Recebi de herança meses de puro vazio,
fui condenado a passar noites longas em aflição.
Deitado na cama, penso: ‘Quando chegará a manhã?’,
mas a noite se arrasta e reviro-me até o amanhecer.
Meu corpo está coberto de vermes e crostas de feridas;
minha pele se racha e vaza pus.”

Jó clama a Deus

“Meus dias correm mais depressa que a lançadeira de um tecelão
e terminam sem esperança.
Lembra-te, ó Deus, de que minha vida é apenas um sopro;
nunca mais voltarei a ver a felicidade.
Tu me vês agora, mas em breve não me verás;
procurarás por mim, mas já não existirei.
Como uma nuvem que se dissipa e some,
os que descem à sepultura[am] não voltam mais.
10 Deixam seu lar para sempre,
e ninguém se lembrará deles novamente.

11 “Não posso me calar, tenho de expressar minha angústia;
minha alma amargurada precisa se queixar.
12 Acaso sou eu o mar revolto ou algum monstro marinho,
para que me ponhas sob vigilância?
13 Penso: ‘Na cama encontrarei descanso,
e o leito me aliviará o sofrimento’,
14 mas tu me assustas com sonhos
e me aterrorizas com visões.
15 Preferiria ser estrangulado;
melhor morrer que sofrer assim.
16 Odeio minha vida e não quero continuar a viver;
deixa-me em paz, pois meus dias passam como um sopro.

17 “O que é o ser humano, para que lhe dês tanta importância
e penses nele com tanta atenção?
18 Pois o examinas todas as manhãs
e o pões à prova a cada instante.
19 Por que não me deixas em paz?
Dá-me tempo pelo menos para engolir a saliva!
20 Se eu pequei, o que te fiz,
ó Vigia de toda a humanidade?
Por que fizeste de mim o teu alvo?
Acaso sou um fardo para ti?[an]
21 Por que não perdoas meu pecado
e removes minha culpa?
Pois em breve me deitarei no pó e morrerei;
quando procurares por mim, já não existirei”.

Nova Versão Transformadora (NVT)

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